Roupas produzidas com a fibra da Cannabis e processos sustentáveis de tingimento são destaques no mercado europeu
A marca portuguesa Sensihemp ganhou o prêmio de ‘Melhor Produto de Inovação’, na Feira Internacional CBD Hemp Business Fair, em Barcelona, com camisetas de cânhamo tingidas com cascas de cebola. O processo de tingimento se dá por meio do mecanismo de biotint, uma técnica revolucionária que não agride o meio ambiente. “O processo biotint é inovador porque recolhe resíduos orgânicos de produtos locais e transforma em tinta, contribuindo assim para a economia circular do planeta”, explica Marta Vinhas, fundadora da marca.
Vinhas, que há mais de 20 anos trabalha com moda, conta que se encantou com o cânhamo em 2018 quando participou da Feira CannaDouro na cidade de Porto, em Portugal, um dos maiores eventos de Cannabis da Europa.
“Eu estava cansada da indústria da moda e de toda a degradação que ela carrega. Eu queria trabalhar com propósito, proporcionar alguma contribuição para o planeta. Quando vi o tecido de cânhamo e conheci todos os seus potenciais sustentáveis me identifiquei na hora. Foi aí que decidi trabalhar com esse tecido, uma fibra muito parecida com o linho”, diz a fundadora.
Marta Vinhas compara a fibra do cânhamo à do linho por reunir experiência no cultivo da linácea. De acordo com a dona da marca, a Sensihemp foi inspirada em um projeto de cultivo de linho na Aldeia Cabril – Montalegre (Portugal), que perdurou entre 2016 e 2018. “Eu estava como voluntária. O projeto consistia em cumprir todas as etapas de produção. Desde o cultivo do linho, até o tear do fio. Nós envolvemos toda a Aldeia. Buscamos os mais velhos para repassar os conhecimentos sobre o tear e o cultivo. O objetivo, ali, era o de preservar o conhecimento português e as técnicas tradicionais através do conhecimento ancestral. Foi muito gratificante”, recorda Marta.
O cultivo de cânhamo em terras portuguesas teve início no século XIV. Naquela época, a matéria-prima da Cannabis era amplamente utilizada na preparação de cabos e velas para as embarcações portuguesas. Com as políticas de criminalização da maconha em todo o mundo, o cultivo de cânhamo em Portugal foi banido em 1971. Atualmente, a produção continua restrita segundo a Marta, “hoje só é permitido cultivar cânhamo acima de cinco mil metros quadrados em solo português. Se eu quiser cultivar cinco plantas para desenvolver o tecido estarei ilegal. Meu sonho é ter um atelier com os nossos artesãos e cultivar a própria fibra para desenvolver o tecido. Precisamos resgatar essa história de Portugal”, defende a empresária.
Como a indústria portuguesa ainda não está voltada à produção de cânhamo para tecelagem, Marta diz que importa a matéria-prima, atualmente, da Romênia. “Antes, eu importava a fibra do norte da França, mas a empresa não tinha transparência e não passava informações sobre a cadeia produtiva do cultivo. A empresa da Romênia é diferente. Apresentou todos os certificados que pedi. Hoje, eu importo só a fibra por falta de produção nacional, mas o fio é feito em Portugal”, detalha Vinhas.
O projeto, que acaba de completar um ano, está em franca expansão e ultrapassa fronteiras com o
mercado digital. “Tenho recebido muito pedidos de outros países. Temos uma loja física, uma loja online e estamos presentes em diversas feiras e festivais da Europa. Só nesse ano, a Sensihemp montou stand em mais de 30 eventos. Nosso projeto consiste em tentar não poluir o planeta, não explorar mão de obra e trabalhar com quem tem esses ideais de sustentabilidade. Eu percebo que as pessoas se apaixonam pelos produtos da Sensihemp por causa do que está por trás da marca e não apenas porque são roupas de cânhamo. Já existem outros produtos dessa fibra no mercado, mas sem qualidade e mais baratos. Meus clientes não se importam de pagar mais por um produto artesanal que utiliza uma tintura sem degradar o planeta”, afirma a fundadora da Sensihemp.
Além da questão ambiental, a marca também promove uma ação social para contratar costureiras que tenham mais de 50 anos e ficaram desempregadas com a pandemia. “Eu e um amigo nos unimos por essa causa. Essa é a parte social da Sensihemp”. Segundo a Marta, todas as roupas da empresa são produzidas de forma artesanal e possuem cânhamo na composição. “As roupas são cortadas uma a uma, o processo industrial não está envolvido. Comecei bem pequenina. Agora estamos crescendo. Quero contratar uma equipe para me ajudar e dar impulso na empresa. As contas estraram em equilíbrio e é hora de expandir”, revela a entusiasta.