Instituto Federal de Brasília abre as portas para debater a Cannabis medicinal e industrial em evento científico anual e lota auditório.
A terceira edição anual do “Café com Ciência” no Instituto Federal de Brasília (IFB) reuniu cerca de 200 universitários e professores para ouvir a palestra do Diretor Técnico da Associação Goiana de Apoio e Pesquisa à Cannabis Medicinal (AGAPE), Simon Teixeira, sobre o uso terapêutico da Cannabis, as pesquisas científicas envolvendo a planta e a regulação vigente. Segundo informou a organização, o número de inscrições bateu recorde com 208 inscritos.
Na palestra, Simon trouxe uma visão geral sobre o cenário da Cannabis medicinal no Brasil. O farmacêutico resgatou a história da planta, falou sobre as indicações na medicina, as legislações em curso e o trabalho que as associações de pacientes vêm desenvolvendo para democratizar o acesso ao óleo da planta.
“No evento ‘Café com Ciência’ do IFB discutimos o tema Cannabis medicinal com os alunos e docentes no sentido de desmistificar as informações que são propagadas sobre essa planta para o público mais jovem. A cada dia que passa essa discussão se torna mais relevante e necessária em todos os meios possíveis da sociedade. Ainda há muito preconceito e falta de informação. Por isso, eventos como esse são de extrema relevância”, destaca Teixeira.
Além da parte conceitual da erva, a jornalista Manuela Borges, fundadora da Informacann (rede de apoio aos pacientes da Cannabis), também foi convidada a expor a mostra “Cânhamo Industrial – uma revolução agrícola não psicoativa” com mais de 70 produtos desenvolvidos a partir da fibra da Cannabis. Entre os itens que chamam a atenção no acervo está o hempcrete – um tijolo feito com filamentos da planta, o cabo carregador revestido de cânhamo e a calcinha absorvente menstrual desenvolvida com tecido de cânhamo com propriedades antifúngica e antibactericida. Outros produtos que despertam a curiosidade do público são cosméticos e lubrificantes íntimos produzidos com partes das plantas. “É muito legal conhecer todas essas possibilidades. Eu nunca imaginaria ser possível produzir tantas coisas com a Cannabis”, se surpreendeu a universitária Juliana Silva. De acordo com a Informacann, os produtos estão à venda, não podem ser degustados e são meramente expositivos.
Ao público, Manuela Borges explicou a diferença entre o cânhamo, que contém níveis irrisórios de tetrahidrocanabinol – THC, e a maconha onde quantidade de THC – molécula psicoativa da planta e produz o efeito recreativo – varia de 10 a 30% em média. Tanto o cânhamo como a maconha são espécies da Cannabis. “A China é a maior produtora de cânhamo do mundo e possui uma política de drogas muito restritiva. Lá a maconha é ilegal. Por outro lado, o cânhamo gera milhares de emprego, renda e imposto para o governo”.
“A ideia da mostra é chegar ao Congresso Nacional para que os parlamentares vejam de perto como a Cannabis é uma planta versátil e completa. Além de fornecer a parte medicinal e industrial, o cultivo dessa commodity absorve mais carbono do que devolve ao planeta, e também regenera área degradadas com a absorção de metais pesados. A Cannabis é uma planta 100% ecológica”, detalha Borges.
Marcelo Salviano, professor do IFB, explica que o Café com Ciência está inserido no Conecta IF, um evento anual do Instituto Federal de Brasília que traz atividades na área de educação, ciência, tecnologia e atividades culturais.
“O ‘Café com Ciência’ tenta fazer uma ponte de comunicação da linguagem científica de assuntos contemporâneos e a população em geral, trazendo não só a informação, mas curiosidades do mundo da ciência e como ela vem trazendo melhorias no nosso dia a dia. O tema Cannabis Medicinal surpreendeu pela quantidade de pessoas interessadas no assunto. O auditório ficou lotado. Muita gente sentou até no chão. A discussão foi muito rica e proveitosa”, observa Salviano, um dos organizadores do evento.