Startup desenvolve produtos de cânhamo para serem revendidos nos formatos de private label e licenciamento no Brasil e exterior
Você sabia que a indústria da moda – sozinha – é responsável por até 8% das emissões globais de gás carbônico? O dado da Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) chama a atenção. Agora, imagina poder ajudar a reduzir esse impacto? Algumas empresas já nascem com esse espírito e focam a produção numa clientela um tanto quanto exigente. Um público que também quer contribuir para práticas mais sustentáveis e ecologicamente corretas – a chamada geração Z.
A startup Rara Hemp, é um exemplo de empresa que se espelha no conceito ESG (meio ambiente, social e governança). A idealizadora do projeto, Marina Ferro, diz que escolheu a tecelagem produzida com o filamento do caule da Cannabis como matéria-prima, porque o cultivo dessa planta requer três vezes menos água do que o algodão e não exige pesticidas. Além disso, o tecido é, pelo menos, duas vezes mais resistente do que os tradicionais e o plantio, por si só, ajuda a reduzir as emissões de gás carbono no planeta, porque absorve mais CO2 do emite. Hoje, a Rara Hemp, é uma empresa que desenvolve produtos de cânhamo para serem revendidos como outras marcas, a chamada etiqueta branca ou ‘white label’. “A Rara Hemp nasce em Franca, no interior paulista, um polo da indústria de calçados, e infelizmente as indústrias tradicionais são altamente poluentes. Eu atuo com sustentabilidade há mais de 10 anos com desenvolvimento de calçados, na transição sustentável e circular para empresas, marcas e projetos. Eu vi no cânhamo uma forma de desenvolver uma moda mais ecológica”, explica Marina Ferro, fundadora da startup.
A empreendedora lembra que teve o insight quando a avó precisou se tratar com a Cannabis. “Foi aí que surgiu a ideia de trabalhar com cânhamo. Percebi que era uma mega oportunidade de mercado. Eu já estava em busca de produtos sustentáveis e regeneradores. Sempre foi a minha paixão pesquisar sobre produtos que causem o menor impacto ambiental possível e que ainda possibilite gerar trabalho e renda digno para trabalhadores dessa indústria. A Cannabis promove tudo isso! A planta regenera solos degradados e ainda captura carbono. A moda não vai parar… A gente precisa ter consciência e mudar as práticas, até espiritualmente falando. Também acho importante evoluir com a questão da legalização da planta. Precisamos trazer conhecimento através da educação sobre o assunto, a mesma planta que nos traz tantos benefícios em vários aspectos também está ligada diretamente à violência e desigualdade social, e os mais impactados hoje são os jovens da periferia.”, defende Marina.
Transformação da indústria local
A proposta da fundadora da Rara Hemp é transformar a indústria local. “A ideia é aumentar ao máximo o uso de matérias primas naturais ou de reaproveitamento dentro das empresas, melhorar o processo produtivo e capacitar pessoas. Temos a oportunidade de preparar a indústria de Franca para ser pioneira na produção de calçados em cânhamo aqui no Brasil. Estamos cocriando uma tendência! Já estamos desenvolvendo alguns produtos para levar ao mercado e investindo para que os próximos tenham um impacto ambiental ainda menor. É lamentável ainda não podermos cultivar essa fibra e ter que importar 100% da China. É importante dizer que trabalhamos com fornecedores certificados, que tenham compromisso com a redução de emissão de carbono. Mas é complicado ter que trazer esse produto para o Brasil, há poucos fornecedores e o tecido acaba saindo mais caro do que os tradicionais”, afirma Ferro.
Apesar de a produção ainda estar no início, a ideia da Rara Hemp é exportar. Para Marina, o potencial brasileiro é gigante, uma vez que o Brasil já é o quinto maior produtor de calçados do mundo. “Franca é uma das principais cidades que mais produz calçados no Brasil e o dólar em alta favorece esse mercado. A demanda já é grande. Estamos estudando desenvolver alguns produtos como lingerie e roupas de bebê. Tudo em 100% ou com uma porcentagem de cânhamo. Um passo de cada vez. Já desenvolvemos tênis, bolsas, ecobags, chapéus e alpargatas e eles ainda estão em teste”, detalha a empreendedora.
Projeto Social
Além de toda a pegada de moda sustentável, a Rara Hemp também é parceira do projeto social ‘Mães que Florescem’. A iniciativa tem programas para fornecer apoio emocional, espiritual, capacitação e geração de renda digna para mães e seus filhos em situação de vulnerabilidade social. Os acessórios da marca estão sendo produzidos pelas artesãs do projeto. “Contamos com mão de obra especializada de costura e bordado manual, além da estamparia social que também faz parte de um dos programas de capacitação e geração de renda para mães, com foco nos jovens. Como eu havia dito, a moda não vai parar, por isso somos uma ponte entre as marcas, as trabalhadoras da indústria e os consumidores para que cada vez mais ela seja mais sustentável e mais justa”, conclui Marina Ferro.