O Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) recebeu na última sexta-feira (01) o 1º encontro científico da Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide (APMC). Presencialmente e por videoconferência, especialistas com experiência em seis países, do Uruguai ao Canadá, estiveram reunidos para compartilhar conhecimento e suas vivências com a modulação do sistema endocanabinoide.
“O evento é justamente para mostrar para a sociedade que isso aqui é ciências. Não é oba-oba, não é curandeirismo. É ciências! Que a gente faz tudo com as evidências científicas que a gente tem”, afirmou a psiquiatra Ana Hounie, membro do conselho consultivo da APMC.
Segundo o neurologista Rubens Wajnsztejn, professor da FMABC e presidente da APMC, o evento significou um primeiro passo dentro da caminhada científica da entidade, fundada em junho deste ano.
“É para marcar uma posição de que estamos falando de ciências. Separado de qualquer interesse comercial, a gente pensou que precisava dar um start. Um encontro para colocar para o público geral que a nossa posição, assim como tudo que for publicado pela associação, é a partir da ciências.”
Wajnsztejn revelou que o objetivo da APMC é o desenvolvimento de protocolos de prescrição de Cannabis medicinal. “A criação de guidelines de como tratar os pacientes. Eles terão um peso importante pois serão os protocolos da APMC.”
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O evento da Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide
Após destacar a importância da união entre especialistas de diversos países das Américas durante a abertura, o presidente da APMC passou a palavra à médica endocanabinologista uruguaia Raquel Peyraube, membro do conselho consultivo da entidade.
Em sua fala, Peyraube destacou o desafio da associação. “Estamos escrevendo a história da saúde pública. Não é somente prescrever um óleo”, disse. “A única coisa que quero é que avancemos, mas não de qualquer forma. Todos falam dos que vão bem, mas poucos falam dos que não. Há efeitos colaterais das más práticas. Os canabinoides são seguros como compostos, não como produto.”
A Cannabis como meio de inclusão social
Em mesa redonda, Ana Hounie destacou que a luta pela aceitação da medicina canabinoide está nos passos iniciais. “Isso aqui é medicina. Não pode deixar que a Cannabis seja prescrita como quem dá um chá de camomila para alguém ansioso. É um medicamento com efeitos farmacológicos importantes.”
Para a psiquiatra, o trabalho é para fazer do sistema endocanabinoide parte regular da formação de profissionais da saúde. “Levar para a universidade. Não tem nenhuma matéria sobre o assunto. Alguns dão aulas e os alunos ficam até surpresos. Por que ninguém fala de um sistema que está dentro da gente?”
Hounie defende que a Cannabis propicia inclusão social. “De 30% a 40% dos pacientes não respondem ao tratamento convencional. Desses, pelo menos metade, ou até mais, dependendo da patologia, podem ser beneficiados pela Cannabis. Isso é inclusão social. Quando um paciente autista começa a falar, isso é inclusão.”
A médica radiologista e pesquisadora Paula Dall’Stella destacou a complexidade do sistema endocanabinoide. “Não é um sistema que você vê. Um sistema de comunicação. Nosso estilo de vida tem um poder na saúde e na doença. O desenvolvimento epigenético rem o sistema endocanabinoide diretamente envolvido.”
Essa complexidade se estende para a interação do organismo com os fitocanabinoides presentes na planta. “O desafio da associação é continuar a progressão de conhecimento da ação dos canabinoides considerando a multiplicidade de ação”, afirmou a psiquiatra Maria Carmem Viana.
A conversa ainda contou com a participação da anestesiologista Maria Teresa Rolim Jalbut Jacob e do psiquiatra Wilson Lessa Jr., e do neuropediatra e diretor científico da APMC, Flavio Geraldes Alves.
Convidados internacionais
Na segunda metade do evento, por videoconferência, o neurologista mexicano Carlos Aguirre, a especialista em medicina integrativa colombiana radicada no Canadá Paola Cubillos, e o especialista em dor e cuidados paliativos argentino Sérgio Mendes Garrido, se uniram às conversas por meio de videoconferência e apresentaram a realidade de seus países, além das evidências cientificas aplicadas em suas áreas de atuação, com mediação de Raquel Peyraube e da especialista em medicina integrativa Paula Vinha.
A Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide (APMC)
A psiquiatra Hounie destacou a importância da entidade. “Na Europa, nos EUA, existem várias sociedades de medicina canabinoide, e a gente não tinha nenhum aqui. Agora, com esse grupo, a gente tem mais força e consegue muito mais.”
“A ideia na criação da associação foi exatamente congregar todos os médicos que tenham já uma expertise, um conhecimento grande, mas também os outros médicos que desejam conhecer em detalhe a medicina canabinoide”, afirmou o presidente Wajnsztejn.
“Dá pra perceber um panorama dentro do Brasil que a gente tem um percentual muito pequeno de colegas que conhecem e vão utilizar a Cannabis medicinal. Diante da importância da medicina canabinoide em termos de possibilidades de melhora de pacientes, nós precisamos incrementar isso. O Brasil precisa aprender sobre a Cannabis medicinal. Essa é nossa função educacional.”
“Temos uma desinformação generalizada da classe médica e dos profissionais da saúde em relação ao sistema endocanabinoide. A fisiologia do sistema e a interação com os medicamentos à base de canabinoides. Inclusive como modular esse sistema sem o uso de fitocanabinoides”, defendeu Paula Dall’Stella, membro do comitê de oncologia da APMC.
“A ideia da APMC é trazer profissionais também de fora do Brasil para contribuir com suas especialidades e maturidade dentro desse campo e levar informação científica de graça para uma grande maioria de profissionais da saúde que não teriam acesso a esse tipo de informação de qualidade. Profissionais de altíssimo nível que toparam embarcar juntos nessa jornada.”
“Nós montamos a APMC com o intuito de divulgar e promover a medicina canabinoide através do tripé de ciência, educação e saúde. A Faculdade de Medicina do ABC sempre esteve muito aberta, tanto para pesquisa quanto para o atendimento de pacientes, e o nosso objetivo é educar”, garante o diretor científico da APMC, Flavio Alves.
“Desde a categoria de base, os alunos de medicina, vamos educar sobre o sistema endocanabinoide, mas também promover a troca de conhecimento dos médicos de diversas áreas que atuam com a medicina canabinoide, para capacitar, atender melhor nosso paciente e ao mesmo tempo quebrar o tabu dentro da sociedade.”
Dê início ao tratamento
Para dar início ao tratamento com Cannabis medicinal, o primeiro passo é agendar uma consulta com um médico prescritor. Na plataforma de agendamento do portal Cannabis & Saúde, você encontra mais de 200 especialistas de diferentes áreas aptos a te acompanhar durante todo o tratamento canabinoide.