Oi? O quê? Como assim? Onde e quando?
Essa é a primeira reação de quem conhece o produto – idealizado por um brasileiro – mas fabricado na China, a maior produtora de cânhamo ou hemp do mundo. Recém-lançado no mercado brasileiro, o dispositivo eletrônico desenvolvido para carregar celulares tanto IOS, como Android, agrega inovação e conceitos de sustentabilidade. De acordo com a descrição do produto, o carregador possui quatro camadas de reforço interno, resiste a mais de 50 mil dobras e suporta até 80 quilos. Além da corda de cânhamo que reveste o cabo, a resistência, ou seja, as pontas do carregador são feitas com fibra de trigo (35%) e ABS (65%) reciclado, outra matéria-prima menos agressiva ao meio ambiente do que o plástico tradicional. “Estamos trocando todas as embalagens para papelão reciclável. Não adianta vender um cabo sustentável em uma embalagem de plástico”, ensina Rodrigo Lacerda, dono da importadora Händz e criador do carregador de hemp.
A empresa, que fornece três anos de garantia do produto, também afirma que o cabo carregador é homologado pela Apple. “Isso é importante porque cabo não homologado é descartável. Por ser homologado, esse cabo dura a vida inteira. Por ser de cânhamo, não estraga. Temos como meta produzir produtos que não sejam descartáveis. Como qualquer produto eletrônico já gera um lixo muito poluente, se a gente puder substituir 30% do material que agride o ambiente por outros sustentáveis, já estamos fazendo a nossa parte. Estamos num processo de entender a logística reversa para fazer o ciclo completo do negócio. Estamos cuidando desde a parte de produção até o descarte. Queremos atuar num tripé: tecnologia, produtos que atendam as demandas do dia-a-dia e sustentabilidade”, afirma Rodrigo.
Sobre a ideia de usar a fibra da Cannabis para revestir o cabo carregador, Lacerda disse que há doze anos vai à China em busca de materiais que atendam a agenda ESG (meio ambiente, social e governança) e sejam soluções criativas. “Se falar em maconha na China é prisão, mas cânhamo é uma fibra. Eles veem de forma diferente, como se fosse uma outra planta. Tanto que são os maiores produtores mundiais. Eu já conhecia o uso industrial da Cannabis, por isso fui atrás desse material”. Segundo o investidor, o objetivo de trazer um cabo feito de fibra da maconha para o Brasil é o de conscientizar as pessoas sobre as inúmeras possibilidades de utilização do cânhamo, uma fibra mais resistente e sustentável do que o algodão, por exemplo. “As velas dos barcos que chegaram ao Brasil em 1500 eram de cânhamo. Uma fibra que não exige agrotóxico e demanda menos água do que outras culturas”, revela.
Produtos ecologicamente corretos
De acordo com o empresário, todos os fornecedores escolhidos pela empresa para o desenvolvimento dos produtos Händz cumprem regras de sustentabilidade exigidas por países comprometidos com o meio ambiente. “As pessoas pouco sabem, mas a China implementou várias normas trabalhistas e ambientais nos últimos anos. Eles possuem todas as certificações porque precisam disso para exportar para a Europa e outros países do mundo. Diariamente estou pesquisando, indo atrás de materiais mais sustentáveis para criar produtos que impactem menos no meio ambiente. Eu tentei ver se já existia esse produto (cabo carregador de cânhamo), não encontramos. Montamos o protótipo. Perguntamos aos chineses, dá para fazer? Eles disseram, vamos tentar! Fizemos os testes, todos os procedimentos de qualidade e ficou muito bonito”, relembra o investidor.
Até o final do ano a empresa espera lançar outros 20 produtos ecologicamente corretos. Além do carregador revestido com a fibra da Cannabis, tem a caixinha de som feita de bambu, o fone de ouvido desenvolvido com a fibra de trigo e o power bank (bateria portátil) feito com garrafas pet. Todos os produtos fabricados do outro lado do mundo. “A matéria-prima já existe na China. Lá fora, o custo é baixo. Com todos os impostos de importação, PIS, Cofins e ICMS, isso representa de 60 a 70% do custo final. Isso só para trazer ao Brasil, sem falar do custo da nota fiscal de venda. Aí, multiplica seis vezes o valor do produto inicial. Além do custo, o problema da importação é o desembaraço e a logística. A Receita Federal está em operação padrão e a mercadoria está demorando bem mais do que o normal para chegar. Eu estou sem estoque. E não há nada que eu possa fazer a não ser esperar”, lamenta Lacerda.
De acordo com o empresário, a demanda pelo cabo carregador tem sido enorme e o estoque acabou em menos de três meses após o lançamento. “Quando lançamos viralizou nas redes sociais, e pelo fato de ser de cânhamo, tem repercutido de forma viral. Muita gente fica curiosa querendo saber da onde vem a matéria-prima. Se tem cheiro de maconha. Se o cabo é feito com a flor da planta, alguns até brincam perguntando se dá brisa. Ficamos muito felizes com a repercussão. Estamos atingindo o nosso objetivo de levar informação, desconstruir preconceito e entregar um produto bonito e sustentável”, comemora Lacerda.