“O que chamamos de felicidade, no sentido mais estrito, vem da satisfação (de preferência repentina) de necessidades que foram represadas em alto grau”. Sigmund Freud
Um dos pontos mais equivocados a respeito da leitura Freudiana sobre a cultura, aparece na afirmação de que o arquiteto da psicanálise ocupou-se do tema a partir da fase final de sua produção bibliográfica. Na verdade, desde a chamada obra inaugural da psicanálise, Interpretação dos Sonhos de 1900, o autor já se preocupava com a ligação estreita entre processos psíquicos como formadores de sintoma, tanto quanto produtor de fenômenos culturais.
Segundo Freud, o indivíduo vive, por necessidade (ou ao menos encontra-se cercado), dentro da civilização. Entretanto, dessa mesma cercania do chamado contrato social, emerge seu efeito colateral: a impossibilidade de ser feliz dentro da comunidade cultural . Assim, o problema é que, enquanto o homem não pode ser feliz dentro da civilização, ele também não pode viver sem ela. Segunda bem acentua Eric Smadja (Freud e a Cultura, Ide, vol.38 no.61 São Paulo, 2016), Freud localizou a fonte de hostilidade humana em duas frentes distintas e, a segunda delas, consiste nas que são “determinadas pela restrição ao trabalho individual e coletivo e a renúncia pulsional exigida, que engendra sacrifícios psíquicos em seus participantes, determinando uma posição virtualmente hostil à cultura e às suas exigências”
Desse modo, apesar de a civilização oferecer segurança ao homem, segundo o austríaco, tanto no sentido de que ele pode ser protegido fisicamente quanto no sentido de que a ciência o ajuda a subjugar sua natureza humana, igualmente, essa subjugação proporcionaria alguma forma de felicidade. Em outras palavras, proporciona-lhe felicidade na medida da liberação da dor e do desprazer, mas isso não é uma felicidade verdadeira .
Mas o que seria, então a felicidade verdadeira para a psicanálise?
Sigmund Freud cria, o propósito da vida humana seria um tópico subjetivo e, portanto, uma questão sem resposta: “a felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz” é uma das frases mais reproduzidas do autor nas redes sociais. A concepção de felicidade segundo Freud, incluiria um indivíduo em um caminho de evitação de dor e perseguição do prazer (princípio do prazer). Essa pulsão seria naturalmente “instalada” no nascimento, ligada ao Id (fonte de energia psíquica calcada na libido). Sustentado no Id, uma pessoa pode satisfazer suas necessidades humanas básicas, alegrando-se quando criança.
Qual o caminho para a procura do bem-estar individual?
Se traçarmos essa visão da felicidade como um dado da subjetividade, uma reflexão se torna inevitável: qual o caminho para a procura do bem-estar individual? Quais as condições mínimas necessárias para a busca de um estado mais permanente e duradouro de bem-estar? Como o estilo de vida influencia esses resultados? Qual o papel de veículos externos como a medicina canabinóide nesse processo?
Longe de procuramos uma resposta unívoca e, portanto, equivocadamente simplista do processo, podemos apontar alguns caminhos, relacionados à chamada qualidade de vida e estilo saudável, representantes indiretos (uma vez que possam ser vistos tanto como concausas quanto como fractais do chamado resultado analítico positivo) de formas de laço social; assim, uma visão integrativa revela-se como um eficiente catalisador do processo.
A título de exemplo, uma grande série de estudos confirmam a eficácia do uso do canabidiol como substância de efeitos positivos e extremamente significativos ao combate de dois dos maiores antagonistas do bem-estar: a ansiedade e o distress. Ainda, associado ao trabalho terapêutico, o uso do CBD vem sendo atestado em tratamento de fobia social, como adjuvante para transtornos psicóticos, sintomas depressivos, entre várias outras formas de sofrimento, o que, para a psicanálise, dada à sua natureza não diagnóstico-clássica, representa profundos avanços no desfecho da chamada análise terminável.
Desse modo, podemos concluir que, mesmo diante de uma conceituação muito próxima da subjetividade, o chamado bem-estar, apresenta formatos e caminhos possíveis dentro da chamada lógica líquida contemporânea e, desses possíveis caminhos, todos demonstram convergir através da informação, busca de intervenções adjuvantes e transdisciplinariedade (é válido lembrar que a prescrição do CBD e sua posologia serão feitas apenas por profissional habilitado) como meios de mitigar o sofrimento do indivíduo.
João Paulo Severo é psicanalista. Pós graduado em Teoria Psicanalítica (ES) e Direito das Relações Sociais (SP). Mestre (Msc.) em Filosofia (SP) . Docente na Escola de Psicanálise de Curitiba (PR), Faculdade da Amazônia (AM) e Instituto Távola (SP). Coordenador do Instituto Távola na cidade de São Paulo-SP. Membro da Escola Lacaniana de Psicanálise do Rio de Janeiro (RJ). Autor de obras na área de desenvolvimento pessoal.