Endocrinologista, cientista e professor. A rotina de João Regis Ivar Carneiro é intensa, mas ao longo de três décadas de profissão permitiu que desenvolvesse uma visão mais completa sobre a medicina. “Acabei de sair do hospital com um paciente e agora eu vou lá para o Fundão. Vou ter uma banca de tese, depois eu vou dar aula, depois eu volto para o consultório.”
“A minha formação é de médico e também de cientista. Tenho artigos publicados em periódicos lá fora, falas em congressos. Essas atividades acabam se misturando e você tem que assoviar, tocar pandeiro, fazer embaixadinha, cruzar, cabecear, mas uma coisa acaba complementando a outra também.”
E foi com naturalidade que, em 2020, começou a mergulhar no universo da medicina canabinoide. “Quando surge uma alternativa terapêutica que não é convencional, muitos colegas já torcem o nariz, criticam, e eu não.”
“Procuro entender melhor para fazer uma análise. Elas podem ter aspectos negativos e positivos, como é na medicina tradicional. Muito remédio pode aliviar sintomas e causar efeitos colaterais”, continua.
“Dentro da universidade, a gente tem uma responsabilidade grande porque a gente forma médicos. Tudo que eu falo tenho que ter ressalvas. A gente pode ter um entusiasmo, mas com respeito a alguns limites do que tem de comprovado e não tem de comprovado.”
Cannabis no endocrinologista
Diante artigos científicos e reportagens que indicavam os benefícios da Cannabis, o pesquisador começou a estudar. Fez pós-graduação, cursos e segue aprendendo com a experiência na prática clínica.
“Eu posso lhe dizer que de um ano para cá eu tive um salto muito grande no meu conhecimento e experiência com relação ao uso da Cannabis medicinal para diversas indicações”, afirma o endocrinologista.
“Eu acredito muito na possibilidade dessa alternativa terapêutica ganhar um espaço muito importante como ferramenta de auxílio dos profissionais de saúde no tratamento de diversas enfermidades.”
O endocrinologista exemplifica com uma das patologias mais corriqueiras de sua especialidade. “A gente não trata o diabetes. A gente trata um paciente com diabetes. Se eu tenho um paciente diabético com insônia. Isso vai atrapalhar o controle metabólico”, conta.
“Vai acordar no dia seguinte e não vai ter ânimo para fazer atividade física, que a gente sabe que melhora o controle glicêmico. Pode ter uma alteração de humor que também interfere na motivação para se cuidar. Existe uma série de questões que indiretamente podem beneficiar muito no dia-a-dia do paciente.”
Pesquisa sobre o sistema endocanabinoide
Por esses motivos, Carneiro se diz entusiasmado com as possibilidades de uso terapêutico da Cannabis medicinal, mas, respeitando seu lado acadêmico/cientista, sempre com ressalvas.
“Eu percebo um certo exagero e uma certa interpretação equivocada de algumas coisas. Se eu vejo que há uma ação da Cannabis no modelo celular de melhora de resistência insulínica, por exemplo. Eu não posso extrapolar isso para um humano e prescrever achando que vai acontecer o mesmo no paciente.”
A partir desse dado, nasce uma pergunta. “Eu devo correr atrás da resposta: ‘será que um organismo humano funciona do mesmo jeito?’ Isso abre o caminho para diversas pesquisas.”
Respostas que pretende responder em suas pesquisas sobre a relação do sistema endocanabinoide e doenças como obesidade e diabetes na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
“Nós estamos falando de uma planta e que contém uma série de substâncias que vão interagir com um sistema que já foi descrito e comprovadamente sentir tem uma série de substâncias que vão interagir num sistema que já é eh, já já fui escrito comprovadamente que modula uma série de reações no organismo humano.”
“O sistema endocanabinoide é fato. Quando a gente usa os compostos da planta, a interação com diversos setores desse sistema vai resultar em ações específicas, que podem trazer benefícios.”
“Em algumas áreas, o uso da Cannabis tem resultados mais contundentes, como convulsão, epilepsia, questões do sono. Para diabetes, a gente tem um campo maravilhoso para estudar e algumas coisas que podem ser sim interessantes. Você só não pode criar expectativas irreais e abrir o caminho para críticas.”
Cautela
Ou seja, os estudos sobre os benefícios diretos dos fitocanabinoides no diabetes ainda são inconclusivos. “O diabetes é uma doença conhecida há muitos anos e tem um arsenal de medicamentos para serem utilizados e com boa resposta. A gente tem que ter responsabilidade para não passar para a população uma expectativa de melhora sensacional do controle glicêmico.”
Muito mais fundamentado é o uso para enfermidades que acompanham o diabetes. “É uma doença que pode afetar os nervos, sobretudo os periféricos, e um grande percentual dos pacientes diabéticos convivem com neuropatias que causam dor e desconforto.”
“Com isso, vão tomar muitos medicamentos antidepressivos, anticonvulsivantes. Um caminho interessante é utilizar os compostos da Cannabis no controle de dor, sem repercussões metabólicas significativas, sem efeitos colaterais e agressão renal.”
Em busca de espaço
Segundo Carneiro, seu cuidado em relação à Cannabis medicinal é estratégico. Assegurar que todos seus posicionamentos sejam respaldados pelo conhecimento científico e, assim, não dar ferramentas aos críticos.
“Eu acabo sendo um defensor dentro da comunidade acadêmica. São poucos médicos com meu perfil, experiência e vivência, que defendem. A gente vê mais uma garotada, com quatro ou cinco anos de formada, uma experiência interessante com a Cannabis, mas sem essa visão mais complexa do problema.”
“Na minha opinião hoje, e eu posso estar errado, o grande desafio é convencer a comunidade mais tradicional e ganhar espaço. A cada ano que passa a gente fica com a impressão de que todo esse conhecimento está ficando mais robusto”, finaliza.
“O meu receio é a gente não extrapolar e queimar o filme. As pessoas mais animadas são fáceis de convencer. Os céticos, tem que ter ferramentas e argumentos muito mais precisos e robustos. Eu tenho que chamar mais pessoas como o meu perfil para entregar o máximo de robustez.”
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