O neurologista e neurocirurgião Alberto Andrade conta como a Cannabis mudou sua prática clínica ao evitar a realização de cirurgias invasivas
Com 25 anos de medicina e duas décadas como neurologista e neurocirurgião, Alberto Luis De Sousa Andrade não imaginava que vivenciaria uma transformação em sua carreira. Até que uma paciente com uma doença rara degenerativa fez tudo mudar.
“Ela tinha uma doença que chama paralisia supranuclear progressiva. Era uma senhora bem ativa e foi perdendo todos os movimentos e não respondia a nenhum tratamento”, conta Andrade.
“A filha dela me perguntou sobre a Cannabis, o que eu achava e fui estudar. A gente optou por passar uma medicação para ela e teve um resultado excelente. Ela melhorou muito.”
A doença fazia com que a paciente tivesse dificuldades de se alimentar. Não conseguia engolir e frequentemente se engasgava com a comida, além de alguns problemas respiratórios.
“Ela começou a usar a Cannabis e começou a se alimentar. Já tinha quase três anos que ela não conseguia comer sem engasgar e um dia ela falou que ela conseguiu tomar café, coisa que ela não fazia há muito tempo”, lembra.
“Comeu uma feijoada e foi aí que pensei: deixa eu ver que deve ter alguma coisa boa na Cannabis. Foi quando comecei a estudar mesmo e me aprofundar no tema.”
Especialização em Cannabis medicinal
Cursou uma pós-graduação em medicina canabinoide e, ainda durante a especialização, viu crescer o número de pacientes que chegavam a seu consultório em busca da Cannabis.
“Eu tenho tido muito resultado em pacientes com dor, Alzheimer, insônia. Vários problemas em que o paciente tomava várias medicações, muitos antidepressivos, ansiolíticos, remédio para dormir, para dor, e a Cannabis tem melhorado muito a qualidade de vida desses pacientes.”
Desde então, a Cannabis tem transformado sua prática clínica. “Pacientes que iam para uma cirurgia, eu tenho tratado no consultório com um resultado excelente. Cirurgia é sempre um procedimento invasivo, que pode deixar alguma sequela. A cannabis melhora muito o quadro clínico e evita o procedimento cirúrgico.”
Mesmo há quase dois anos trabalhando com a prescrição de Cannabis, o neurologista não deixa de se surpreender pelos múltiplos resultados. “Por incrível que pareça, tenho tido bons resultados em diversos casos. Tanto em dor quanto em ansiedade, depressão, insônia, Alzheimer, Parkinson”, diz.
“Pacientes que já chegavam aqui bem graves, numa fase avançada de Alzheimer, e que não respondia nenhum tratamento, e melhoraram muito. Alguns pacientes com autismo, alterações de comportamento e epilepsia têm melhorado muito também. Então é surpreendente mesmo o número de patologias, principalmente da parte da neurologia, que a gente tem conseguido tratar com a Cannabis.”
O sistema endocanabinoide explica
Andrade explica que não se trata de um medicamento milagroso. A diversidade de patologias que a Cannabis trata se deve às próprias características do sistema endocanabinoide.
“Ele é um sistema regulador de todos os outros sistemas do organismo. Nós já produzimos Cannabis, vamos dizer assim, dentro do nosso organismo. Nós já produzimos o THC, que no organismo chama de anandamida, nós produzimos o CBD, que chama de 2AG”, afirma o neurologista e neurocirurgião.
“Só que, quando a gente tá com uma doença, isso está desregulado, então entram os fitocanabinoides. Os remédios à base da planta para poder regular esse sistema. Quando regula o sistema endocanabinoide, regula outros sistemas e é por isso que funciona para tantas coisas.”
Além da neurologia
A diversidade de patologias vai além da própria neurologia, como demonstra sua própria experiência. “Uma amiga tinha um problema que não tem nada a ver com a minha área. Ela entrou na menopausa e tinha um problema que a fazia sentir muito envergonhada. A gente estava sentado em um restaurante, coisa assim, e ela começava a pingar suor. De escorrer suor no prato, molhava toda a mão, o rosto.”
“Ela já tinha feito vários tratamentos, tomado todos os tipos de remédio, de hormônios e nada funcionava. Eu fui ler sobre o assunto e tinham poucos estudos, mas eu comecei o tratamento com canabidiol”, continuou.
“Mudou a vida dela. Depois disso ela nunca mais teve essas crises de sudorese excessiva e passou a ter uma vida normal. Melhorou os calores que ela tinha muito e não está tomando nenhuma outra medicação além do canabidiol.”
Derrubando o preconceito
Apesar desse caso, Andrade afirma que já existem diversos estudos e pesquisas que sustentam o uso de Cannabis medicinal em diversas patologias. “Lógico que sempre precisa de mais estudo para descobrir mais efeitos da Cannabis, mas isso já melhorou muito. A quantidade de estudos que a gente tem hoje já dá uma segurança excelente pra gente prescrever.”
Tanto que, segundo ele, o próprio preconceito de seus colegas em relação à Cannabis tem diminuído muito. “Principalmente os colegas mais novos, que estão se formando agora e têm uma cabeça mais aberta. O pessoal mais antigo ainda tem um receio, mas até quem tem um pé atrás, vê um paciente que melhorou muito, e isso faz com que o preconceito vá caindo”, finaliza.
“Ainda tem muitas barreiras, muitas coisas que a gente precisa derrubar, mas tá diminuindo bastante.”
Dê início ao tratamento com Cannabis
Quem possui alguma patologia com indicação para os fitocanabinoides, o primeiro passo para dar início ao tratamento é marcar uma consulta com um médico prescritor.
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