Prescritor de Cannabis medicinal para os esportistas do Atleta Cannabis, o médico Renan de Camargo dá detalhes do tratamento e seus benefícios
A maior comunidade de esportes e fitocanabinoides no Brasil, o Atleta Cannabis anunciou recentemente uma parceria com a Care Club, a maior clínica esportiva da América Latina, e a Tegra Pharma, fornecedora de medicamentos com fitocanabinoides no Brasil.
Mas não é de hoje que os triatletas amadores Fernando Paternostro (colunista aqui no portal Cannabis & Saúde) e Peu Guimarães, à frente do Atleta Cannabis, fazem o tratamento com Cannabis medicinal, acompanhados pelo médico Renan Stocco de Camargo.
Em entrevista ao portal Cannabis & Saúde, o ele explicou todo o passo-a-passo dos atletas que buscam o tratamento canábico para aprimorar o desempenho esportivo e como o medicamento ajuda aos esportistas.
Primeiro atendimento
“A gente tem nossas condutas. A prescrição é individualizada para a necessidade do paciente. Só que a gente formulou o kit Atleta Cannabis com base nas percepções que a gente foi testando na prática. A gente encontrou um equilíbrio entre algumas substâncias, alguns produtos que se aplicam para a maioria para a maior parte dos atletas, principalmente de triátlon, musculação, CrossFit, modalidades individuais.”
“O primeiro passo é analisar a necessidade do paciente. Se ele tá com alguma lesão, se ele é um paciente que só tá buscando uma melhor performance, se ele tem algum problema de saúde, ai direciona isso para o profissional adequado.”
“Eu acabo atendendo a maior parte dos atletas de fato, pois essa é a expertise que a gente foi desenvolvendo ao longo do tempo. Esse paciente chega, a gente faz uma consulta de aproximadamente uma hora onde eu avalio, não só a parte o histórico de saúde desse atleta, mas também a rotina dele.”
“O sono, a dieta, o treino, como é que ele está se alimentando, se ele tem um seguimento com nutricionista, com fisioterapeuta. Enfim, entendo um todo de como é que tá essa rotina dele. Por exemplo, é um atleta que ele concilia junto com a atividade física dele uma jornada de trabalho de 12 horas por dia. Isso é muito comum. Esse é um cara que acaba tendo problema de insônia, problema de estresse e que indiretamente acaba afetando a qualidade do desempenho dele no esporte.”
“Eu identifico esses pontos de atenção e mediante a esses pontos, eu escrevo uma medicação direcionada para isso. O paciente sai da consulta bem orientado, tanto sobre a forma que ele vai utilizar a medicação, o horário e que tipo de medicação por duas semanas.”
“Depois ele tem um retorno comigo em que vai contar como foi a experiência dele nesse início. Se ele teve alguma dúvida, se já melhorou, se não melhorou ainda. Enfim, ele vai me trazer essas experiências e, com base nelas, eu faço algumas alterações se achar necessário. Depois disso, o paciente ganha digamos uma alta por três meses. A a gente vai fazer o tratamento e depois ele retorna uma nova consulta.”
A prescrição
“A gente bolou esse kit Atleta Cannabis, que ele é um kit composto por um óleo full spectrum. Esse óleo possui todos os compostos da Cannabis. É o óleo que eu gosto de utilizar como base do tratamento de todos os atletas amadores. Por conter THC, substância proibida sujeita a doping, deve ser evitada em profissionais.”
“Esse óleo tem por característica um efeito sinérgico entre as fitocanaboides, promovendo é uma melhora global nos padrões de qualidade de vida. Tanto a questão do sono, da qualidade da dor, na recuperação muscular entre os treinos. Uma melhor concentração e foco durante as atividades de trabalho, mas também e principalmente voltado à prática esportiva.”
“Também ajuda no limiar de dor. A gente sabe que os atletas convivem constantemente com a dor e isso acaba limitando um pouco a performance, a rotina de treino, e pode comprometer o desempenho na prova ou na competição que ele foi disputar.”
“Eu costumo utilizar ele duas vezes ao dia, depois do café da manhã e após o jantar. Para atletas, calculo uma dosagem um pouco mais arrojada do que eu costumo prescrever para pacientes que estão em tratamento de doenças. Por exemplo, chega uma senhora com 70 anos, com dor crônica no joelho por uma artrose. Essa paciente eu vou ter uma conduta muito mais conservadora, porque ela já usa várias medicações, não teve um contato prévio ainda com a Cannabis medicinal, e a gente não sabe o que esperar desse tratamento para essa paciente.”
“O atleta tem um perfil bem diferente. Ele já é uma pessoa que tá vindo buscar algo a mais para acrescentar numa rotina que muitas vezes já está bem encaixada. Ele já é um cara bem orientado, que tem todos os parâmetros de dieta, de sono, bem orientado. Então ele tá vindo buscar algo a mais e eu costumo ter uma conduta mais arrojada. Uma dose Inicial também maior.”
“Eu costumo iniciar esse tratamento com meio miligrama por quilo de peso. Divido essa dose em duas tomadas ao dia. Eu peço para esse paciente continuar com essa dose por uma semana e reavalio. Veja como esse paciente está, se sentindo bem, se ele teve o resultado que ele tava buscando, ou se a gente precisa seguir aumentando essa dosagem. É muito comum continuar aumentando essa dosagem gradativamente.”
“Se esse paciente já teve resultado que a gente busca, eu estabilizo aquela dose e ele se mantém com ela durante o tratamento.”
Os benefícios do THC no esporte
“O que a gente faz de diferente em nível mundial é tentar estabelecer a relação do THC com a performance esportiva. A gente sabe que o THC tem uma psicoatividade muito grande. É uma molécula que tem maior atividade dentro da Cannabis e pode promover algumas alterações interessantes no esporte. Por exemplo, uma diminuição da percepção de esforço. É uma das coisas que faz um atleta não conseguir terminar o seu treinamento. Não conseguir avançar na intensidade ou completar uma distância maior do que o normal. Às vezes ele está bem treinado, tem condições musculares e cardiovasculares para fazer aquela atividade, porém ele não consegue ter um mindset necessário para aquilo isso.”
“O cara no final do treino fala ‘putz, faltam 5 km de corrida’. Nesse ponto, a cabeça entra como um inimigo desse atleta. Então ela fica ‘pô, tá doendo o joelho , não tô mais aguentando, tá dando pontada na barriga, eu não tô me sentindo muito bem e acho que eu vou parar.’ Esse tipo de pensamento é muito comum nesse tipo de intensidade, então quando a gente utiliza o THC e os atletas têm uma menor percepção desse esforço.”
“Eles conseguem completar os treinos sem maiores dificuldades. O que que eles me relatam, que é muito legal, é que eles entram no estado como se fosse de flow. Aquela percepção de esforço dá lugar para uma percepção muito mais sensorial. O cara começa a falar que ele está sentindo o vento batendo no rosto de uma forma diferente, ele vê a cor das folhas das árvores de forma nítida. Ele sente até um certo prazer estar ali, naquela atividade física, e desvia um pouco o foco da distância que ele tá fazendo ou da velocidade que ele está correndo, por exemplo.”
“Quando a gente fala do THC, a gente tem que ter uma conduta um pouco mais conservadora. Tendo em vista essa psicoatividade, que é uma molécula que pode cursar com alguns efeitos na psique do atleta que podem não ser tão agradáveis, trazendo prejuízo para esse atleta na performance.”
“Uma das primeiras coisas que eu pergunto é se ele já teve o contato com o THC na vida dele. Vamos supor, é um cara que já utilizou um óleo ou é um cara que já fumou a maconha de forma recreacional, por exemplo, e falou pra mim que teve uma experiência legal, nunca teve crise de ansiedade mesmo fumando, sempre teve uma experiência agradável, que ajudou a relaxar. Esse é um cara que já me traz um sinalzinho verde que a gente pode iniciar um tratamento com uma dose um pouco mais alta de THC.”
“Pensando no cenário oposto, quando é um cara que nunca teve contato ou é um paciente que já teve o contato e não gostou. Fumou maconha e teve uma sensação ruim, aumentou a ansiedade. Esse cara tem que ter uma conduta mais conservadora.”
Formulações de medicamentos
“Hoje a Tegra, que é nossa parceira, tem duas medicações muito interessantes e que se complementam. Uma que tem quinze partes de THC para uma parte de CBD. Essa medicação fica reservada pro primeiro grupo de pacientes, aquela galera que já teve uma experiência positiva e que eu tenho aquele sinal verde.”
“Tem outro com uma molécula de CBD para uma de THC, que a gente vai ter essa psicoatividade, porém a presença do CBD na mesma proporção atenua esses possíveis efeitos negativos do THC. Esse óleo então fica voltado para os pacientes que ainda não tiveram uma experiência ou que tiveram, mas não se sentiram muito bem ou que tem um pouco de receio de iniciar o uso em altas doses.”
“Tem um terceiro grupo de pacientes, que seriam aqueles que tiveram realmente experiências ruins, a gente pode partir para o delta-8-THC. Mas essa é uma conduta que ainda não existe um grande respaldo por trás, porque o Delta 8 é uma molécula muito pouco estudada.”
Uso tópico da Cannabis
“A gente também colocou nesse kit um produto tópico, que é uma pomada para utilizar em lesões musculares. Por exemplo, se tem uma dor muscular depois do treino ou tem uma dor articular que limita um pouco o movimento, uma entorse no pé, um tornozelo inchado, essa pomada fica específica para esses usos pontuais. Então esse paciente.”
Cuidados com o THC
“A gente tem que usar o THC de maneira pontual nos treinamentos. Não é para todo dia nem para todo treino. Porque, senão, isso acaba criando uma tolerância. O paciente perde um pouco dessa desse efeito psicoativo. Eu sempre oriento que o paciente use o THC no máximo duas vezes na semana, sempre nos treinos mais intensos.”
“Vamos supor, para um triatleta, na segunda-feira tem corrida, na terça de bicicleta, na quarta de natação, assim por diante. No sábado ele faz uma transição, com bicicleta e corrida. Nesse dia, o treino, ao invés de durar duas horas, vai durar 6 horas. Nesse dia eu peço que ele utilize para tentar modular essa percepção do esforço.”
“Quando a gente fala do uso oral do óleo, vai ter um pico plasmático por volta de duas horas e meia depois da aplicação. Eu sempre oriento que esse paciente utilize o óleo uma hora mais ou menos antes de iniciar o seu treino. Vamos supor que ele vai fazer um treino de 6 horas. Se esse paciente precisar de uma dose de resgate, vai tomar essa dose numa transição.”
“Isso é muito individual, muito particular, porque algumas pessoas têm uma degradação maior mais rápida do THC e outras pessoas uma degradação menor desse THC. Por isso que eu sempre oriento os meus pacientes, aqueles que tem a condição financeira, para fazer o teste genético. Ele conta pra gente como é a metabolização e a excreção dos fitocanabinoides. Com isso em mãos, eu consigo traçar um plano mais rápido, mais personalizado para esse paciente.”
Acompanhamento e pesquisa
“Nosso trabalho é entender as ações dos fitocanabinoides na atividade esportiva. E para a gente conseguir deixar isso cada vez mais fiel, mais robusto, a gente faz análise dos nossos resultados. Tanto de maneira subjetiva, que é inclui muito essa percepção do paciente, como que ele está se sentindo, o que ele achou do tratamento. Mas isso é muito subjetivo.”
“A gente também faz as análises objetivas. Costumo fazer esse tipo de análise com esses smartwatch, esses relógios de esporte. São relógios que trazem pra gente alguns dados e métricas, como qualidade do sono. Quanto tempo ele começou no profundo, quanto tempo ele ficou no leve, quanto tempo ele começou no REM. Qual é o nível de estresse desse paciente? O relógio traz essas informações e a gente consegue comparar e constatar como era antes do tratamento.”
Dê início a tratamento com Cannabis medicinal
Se você é esportista em busca de uma melhora de performance ou um paciente com alguma condição que encontra indicação para o início do tratamento com Cannabis medicinal, o primeiro passo é marcar uma consulta com um médico prescritor. Na plataforma de agendamento do portal Cannabis & Saúde você encontra o contato de cerca de 200 especialistas capacitados para te acompanhar durante todo o tratamento. Acesse agora e agende sua consulta.