Os vários benefícios de se fazer um tratamento com Cannabis, e como fica essa história dentro dos treinos.
Muito se tem ouvido falar sobre a utilização da Cannabis dentro do esporte. No último ano, com o crescimento desse discurso, e com a consolidação do Atleta Cannabis como a maior comunidade de Cannabis e esporte do Brasil, muitas pessoas tiveram acesso a uma nova maneira de se utilizar cannabis: para melhorar a qualidade de vida, o bem-estar e por que não, a performance esportiva.
Porém, com a ausência de estudos clínicos nessa área, em especial por ser um assunto muito novo, fica sempre a dúvida sobre a real eficácia da Cannabis dentro do esporte. No entanto, o interesse de atletas profissionais e amadores, e do praticante de atividade física só cresce. Como fica então esse mercado?
Segundo a Kaya Mind, empresa de pesquisa do setor de Cannabis no Brasil, no seu relatório sobre Cannabis e Esporte, que teve patrocínio do myGrazz, ainda que o número de brasileiros que praticam exercícios físicos esteja abaixo do desejável – o Brasil lidera o ranking de nações que fazem menos atividades físicas, segundo uma pesquisa da Ipsos com 29 países, existe um universo considerável de pessoas que realizam práticas esportivas no dia a dia, seja no lazer ou trabalho.
Todas, portanto, estão sujeitas às consequências da alta frequência desse hábito, mesmo que, a longo prazo, elas sejam menores do que a ausência dele. A constância e intensidade da atividade física, principalmente quando repetitiva, exige muito da musculatura corporal, provocando, muitas vezes, lesões, ou seja, danos à estrutura e à função do tecido muscular que dão início a uma resposta inflamatória. A inflamação é um processo importante para o reparo, regeneração e adaptação da lesão, mas, em excesso, pode ser prejudicial.
No caso de atletas profissionais, o foco da prática esportiva é a entrega de resultados, não o bem-estar, o que acaba por aumentar a possibilidade desses impactos ao corpo e, também, à saúde mental. As lesões dependem de uma série de variáveis, como o tipo de esporte, o nível competitivo, o equipamento utilizado, a experiência, as técnicas seguidas, as condições do exercício físico, bem como as características individuais de cada atleta . Por isso, elas podem ser classificadas entre diferentes tipos, mas todas acarretam uma sequela em comum: a dor.
A dor, portanto, é persistente e acompanha a carreira dos atletas, principalmente aqueles de alta performance. Existe a dor inflamatória, que geralmente ocorre quando há danos nos tecidos, e a dor neuropática, resultado de uma lesão ou doença no sistema nervoso somatossensorial (responsável por experiências sensoriais de todo o corpo).
No caso de atletas paralímpicos com membros amputados, por exemplo, existe a dor fantasma, que gera queimação, formigamento, pontadas e outros desconfortos. Ela acomete cerca de 90% dos indivíduos que passaram pela amputação de alguma parte do corpo. Essa sensação desagradável pode ser um impeditivo para uma boa noite de sono, necessidade fisiológica importante para o desempenho dos atletas.
A qualidade do sono também pode ser impactada por outros fatores vivenciados por esses esportistas, como as competições e sessões de treinamento noturnas, a ansiedade antes das disputas, o uso de cafeína ou outras substâncias legais estimulantes, o jet lag ou cansaço após as viagens de longas distâncias e mais. Sem descanso, no entanto, o corpo não consegue cumprir uma etapa importante da recuperação muscular, o que acaba por prejudicar a atuação do atleta no próximo treinamento, lhe causando ansiedade e estresse, outras duas condições médicas a serem levadas em consideração.
Todas essas condições médicas podem ser beneficiadas pelas propriedades terapêuticas da Cannabis. Afinal, ela tem potenciais analgésicos, anti-inflamatórios, neuroprotetores, ajuda a dormir e alivia a fadiga, reduz o estresse e a ansiedade, protege o sistema imunológico, entre outros. Cabe uma observação: o uso medicinal da Cannabis pode ser feito de muitas maneiras.
Dessa forma, podemos perceber a infinidade de vantagens para atletas (profissionais ou amadores), em se fazer uso terapêutico da Cannabis, e como o uso contínuo reduz a necessidade de anti-inflamatórios, e tantos outros remédios tradicionais que trazem efeitos colaterais severos para os atletas.
Mas e dentro da performance esportiva?
Seria a Cannabis capaz de aumentar os resultados dos atletas, trazendo uma melhora na hora da competição?
E caso positivo, isso não seria considerado doping?
Essa questão, acredito eu, é uma das perguntas mais importantes dentro desse universo da utilização da Cannabis dentro do esporte; e com certeza a mais polêmica.
Como não existem estudos clínicos específicos sobre esse assunto, vou tomar como exemplo uma experiência subjetiva que venho passando nos meus treinos. O objetivo aqui, é trazer mais repertório para a discussão, e lembrando sempre que faço uso com supervisão médica, autorização da ANVISA e orientação de uma equipe multidisciplinar que me acompanha dentro do projeto do Atleta Cannabis, com médico do esporte, médico que prescreve os óleos de Cannabis, fisioterapeuta, nutricionista, quiropata, treinador de triathlon, de natação, além de toda a estrutura da CareClub, clínica esportiva onde sou embaixador da marca.
Uso da Cannabis no esporte
Dito isso, eu faço uso de diferentes tipos de óleos e creme de Cannabis, para ciclos de treinos específicos. Isso quer dizer que uso óleos broadspectrum, fullspectrum, isolados, com concentrações mais altas de CBG, CBN e também THC. No caso do THC especificamente, faço uso de um produto que tem 15 partes de THC para 1 de CBD, numa dosagem de 25mg/ml do canabinoide psicoativo THC. Em dias de treino de endurance, onde o total do treino pode
chegar a 4 horas, faço uso de 20mg/ml desse produto (que no caso é o 15:1 MGC da Tegra Pharma).
Esse produto, por ter concentração elevada de THC, acaba promovendo uma bronquiodilatação e vasodilatação maiores, o que aumenta a quantidade de oxigênio no meu sangue. Também promove uma clareza mental e um foco mais elevados que em outros treinos, por ser uma substância psicoativa. A sensação de presença dentro do exercício é imensa, e a concentração realmente aumenta. Agora o principal, na minha visão e percepção, é o deslocamento da percepção de dor no desgaste neuro-motor. Fator que tem me permitido, aos poucos, ir empurrando esse limiar de desconforto e consequentemente melhorado minha performance dentro dos treinos!
É claro que o risco de uma eventual lesão acaba aumentando, e de forma alguma estou sugerindo que outras pessoas façam isso, porém posso dar meu depoimento que, comigo, isso tem funcionado muito bem. E sempre após o treino, faço toda uma manutenção do meu corpo para o controle dos processos inflamatórios.
Nesse ponto específico, caso fique comprovado que o THC realmente aumenta a performance dos atletas, poderíamos considerar que ele entraria como doping. Teríamos então, a retirada da Cannabis como um todo da lista da WADA, e após os estudos clínicos específicos, a proibição de alguns fitocanabinoides (como o THC), para atletas de competição. Isso mostra como temos ainda muito chão pela frente na utilização da cannabis no esporte, e como esse assunto é tão relevante para o cenário mundial do esporte.
Vale lembrar, que atletas profissionais representam o topo da pirâmide e uma minoria gigantesca se comparados com os praticantes de atividade física e atletas amadores. E que a Cannabis possui uma quantidade muito grande de aplicações práticas ainda não exploradas.
Essa é a beleza desse mercado, onde as pesquisas só crescem, a quantidade de médicos que estão estudando sobre o assunto só aumenta, e os benefícios para a população geral aparecem de forma exponencial.
Fica a dica para quem gostou do texto e quer mais informação: marque uma consulta médica e converse com um profissional de saúde capacitado para saber se o tratamento com Cannabis é para você.
A era da Cannabis, chegou!
Fernando Paternostro é atleta e empresário da Cannabis. É fundador da comunidade Atleta Cannabis, CEO do app de Cannabis Mygrazz, triatleta amador patrocinado pela Tegra Pharma, embaixador da CareClub e colunista do Portal Cannabis & Saúde.