Yotam Hod, CEO da Gynica, fala sobre potencial da Cannabis medicinal em questões ligadas ao corpo das mulheres
No dia 8 de março, celebra-se anualmente o Dia Internacional da Mulher. O dia é um marco na luta pelos direitos das mulheres, chamando a atenção para discussões sobre igualdade de gênero, direitos reprodutivos e também contra a violência e abusos direcionados a mulheres.
Neste dia, o site Cannabis & Saúde traz informações sobre a farmacêutica israelense Gynica, voltada inteiramente para a pesquisa e desenvolvimento de terapias à base de Cannabis medicinal para o corpo feminino, bem como informações úteis sobre tratamentos de patologias tipicamente femininas que já podem ser tratadas com fitocanabinoides.
Em entrevista recente ao portal CTech, editoria de tecnologia do jornal israelense Calcalist, Yotam Hod, CEO da Gynica, falou sobre como a saúde da mulher e a pesquisa de Cannabis são dois assuntos que passaram anos negligenciados — e como fazer para mudar essa realidade.
Nascido em uma família de médicos e filho de ginecologista, Hod conta que assuntos como menstruação, sexo e gravidez nunca foram tabus em sua casa. “Falávamos sobre esses assuntos diariamente. Isso foi uma das coisas que me permitiu perceber que, infelizmente, a saúde da mulher é negligenciada pela comunidade médica, científica e também pela indústria.”
Um dos temas mais básicos que passam batidos pelo mainstream médico são as dores menstruais e relacionadas ao sexo, segundo Hod. “800 milhões de mulheres menstruam diariamente no mundo, e muitas delas precisam passar o dia de cama. Isso sem falar da dispareunia, que são as dores relacionadas à relação sexual; cerca de 40% das mulheres sofrem com isso em algum momento de suas vidas.”
Ele lembra que questões ligadas à saúde sexual masculina são amplamente discutidas e têm tratamentos simples à disposição dos homens. “O Viagra está mercado, mas não tem nenhuma solução para essas questões que afligem centenas de mulheres diariamente no mundo todo.”
O tabu da Cannabis
Mas além do tabu da saúde das mulheres, há também o tabu envolvendo a Cannabis. É aí que Hod comemora o fato de Israel ser uma referência nos estudos canábicos. “O THC foi descoberto em Israel nos anos 1960, pelo professor Raphael Mechoulam.”
Para realizar suas pesquisas, Mechoulam teve de buscar brechas na lei, afinal a maconha era proibida naquela época. “Ele conversou com uns amigos que trabalhavam em uma estação policial e conseguiu ‘pegar emprestado’ 5 quilos de haxixe apreendido. Foi assim que o THC foi descoberto”, lembra o empresário. “Isso abriu as portas para mais de 50 anos de pesquisa acadêmica em Israel. E é por isso que o país se tornou um líder global nesse tipo de estudos.”
Outra descoberta que viria a mudar os rumos da pesquisa sobre Cannabis medicinal também aconteceu em Israel. Em 1992, o professor Lumir Habus descobriu o sistema endocanabinoide. Hod explica a questão de forma simples: “Os endocanabinoides são receptores que fazem a ligação com as substâncias ativas da Cannabis. Nós já temos esses receptores dentro de nós, mas quando consumidos fitocanabinoides, conseguimos ativar esses receptores. São eles que são responsáveis pelos efeitos terapêuticos da Cannabis.”
Mulheres e Cannabis
Quando começou a estudar sobre os efeitos terapêuticos da Cannabis, Hod percebeu que um dos entraves para o desenvolvimento desse mercado era a falta de conhecimento. “Para ter esse conhecimento, precisamos de pesquisa. Como há muitas barreiras regulatórias, nossa brecha de pesquisa é bastante estreita. Isso me fez perceber que a pesquisa e o desenvolvimento de medicamentos são a única forma de mudar esses marcos regulatórios e a opinião da comunidade médica, dos pacientes. Para isso, precisamos de credibilidade e segurança na pesquisa.”
Em seus estudos, Hod se deparou com evidências que mudaram os rumos de sua carreira. “Eu me apaixonei por essa área. Comecei a ler muitos artigos científicos, e um dia um deles me chamou a atenção. Dizia que o sistema reprodutivo feminino é o órgão com maior número de endocanabinoides, atrás apenas do nosso cérebro.”
“Nos últimos dois anos podemos ver um interesse crescente no que chamamos de FemTech, tecnologias femininas. O campo está em pleno desenvolvimento. De repente a indústria se deu conta de que, além de proporcionar o bem-estar que as mulheres merecem, este também é um mercado com grandes oportunidades de negócios.”
Seriedade
Para Hod, o assunto deve ter prioridade máxima nos campos da pesquisa e desenvolvimento, e também tem que ser tratado com a seriedade necessária. Segundo ele, é necessário deixar de lado todos os estigmas e preconceitos relacionados a menstruação e questões sexuais. É preciso falar de forma profissional. “Por que eu, um médico homem, me sinto seguro para falar desse assunto? Porque colocamos o debate na mesa sem nenhuma risadinha, isso nos permite falar sobre isso da forma correta.”
Analisando a conjuntura, o empresário também nota uma sinergia entre os dois campos, da pesquisa sobre Cannabis medicinal e também da emancipação feminina. “Da mesma forma que vemos discussões sobre empoderamento feminino em outras áreas, também na saúde esse tema deve ter prioridade total”. A mudança, para Hod, começou, mas ainda há um longo caminho a se percorrer. “São dois assuntos ainda incipientes, que ainda são envoltos em muitos tabus. Mas a discussão já começou.”
Casos reais
Um exemplo de Cannabis aplicada na prática para a saúde feminina veio do Canadá. Em pesquisa recente, a cientista Katherine Babyn descobriu que um terço das mulheres na menopausa fazem uso da Cannabis para tratar os sintomas relacionados ao período.
Outra condição feminina que indica um caminho próspero para o uso de Cannabis medicinal é a endometriose, uma doença inflamatória que acomete o útero, causando dores intensas, dispareunia e que pode levar até à infertilidade. A doença atinge cerca de 10% das mulheres em idade fértil, e estudos comprovam que medicamentos à base de Cannabis podem reduzir o processo inflamatório e mitigar as dores.
Como iniciar o tratamento com Cannabis
Estão cada vez mais acessíveis os tratamentos com Cannabis medicinal no Brasil. Atualmente, as autorizações para importação levam menos de um dia para serem emitidas pela Anvisa, e menos de duas semanas para o produto chegar na casa do paciente. Além disso, a Anvisa também liberou a venda desses produtos em farmácias, e existem associações de pacientes.
No entanto, para todas as alternativas é obrigatório uma receita médica para o produto. Por isso, o primeiro passo é se consultar com um médico prescritor de terapias canabinoides. A boa notícia é que o portal Cannabis & Saúde possui uma plataforma de agendamento de consultas com mais de 150 profissionais cadastrados. Mais de 4 mil pacientes já iniciaram seus tratamentos através desta plataforma.
Neste link, você acessa a plataforma já com o filtro para os profissionais que tratam endometriose. Se você deseja tratamento para outra patologia, é só alterar na busca. Você também pode escolher a cidade do médico, a especialidade e até o valor que você pode pagar.