O mês de março é reconhecido internacionalmente como o Mês de Conscientização sobre a Endometriose.
Estimativas indicam que uma a cada 10 mulheres sofra com os sintomas da endometriose e desconheça a sua existência
Segundo dados do Ministério da Saúde, no ano de 2021, houve mais de 26,4 mil atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), e 8 mil internações na rede pública de saúde relacionadas à endometriose.
É justamente por isso que durante o Março Amarelo diversas campanhas e eventos são realizados, para aumentar a conscientização sobre a endometriose, uma condição médica em que o tecido semelhante ao revestimento do útero cresce fora do útero, muitas vezes causando dor intensa e outros sintomas.
A importância de conscientização sobre a endometriose
A conscientização sobre a endometriose é crucial, pois é uma condição que afeta milhões de mulheres em todo o mundo, e muitas vezes é subdiagnosticada ou mal compreendida. Ao dedicar um mês para destacar essa questão, espera-se que mais pessoas possam entender os sintomas, diagnosticar a condição precocemente e apoiar as mulheres que vivem com endometriose.
O diagnóstico da endometriose pode demorar, mas ele é imprescindível
Apesar da alta incidência, obter um diagnóstico pode demorar, mas ele é muito importante. Pois além das fortes dores que a condição causa, se não for tratada a tempo, a endometriose pode levar à infertilidade.
Por isso, a importância deste Março Amarelo, para que cada vez mais mulheres saibam diagnosticar a doença e iniciar um tratamento o quanto antes. Se amigos e familiares souberem os sinais da doença, é possível descobrir cedo e a paciente receber um tratamento efetivo.
Para entender como a Cannabis pode ser uma aliada importante no tratamento de endometriose conversamos com a Dra. Maria Teresa Jacob, médica pioneira na prescrição de canabinoides no Brasil.
O aparelho reprodutor feminino apresenta uma das maiores concentrações de receptores canabinoides
“O aparelho reprodutor feminino apresenta uma das maiores concentrações de receptores canabinoides do organismo e uma concentração de endocanabinoides maior do que no cérebro. Os receptores canabinoides e os endocanabinoides fazem parte do Sistema Endocanabinoide. Este sistema é importante no equilíbrio do nosso organismo, sendo ativado quando um órgão ou sistema está em desequilíbrio.
Os receptores mais conhecidos e estudados são os receptores CB1 e CB2. Normalmente, eles são estimulados pelos endocanabinoides (substâncias que nós produzimos) para recuperar o equilíbrio do aparelho reprodutor feminino quando este se desequilibra. A Cannabis possui substâncias, os fitocanabinoides que se ligam a estes receptores, fazendo ação dos endocanabinoides. Os fitocanabinoides mais conhecidos são o THC e o CBD (Canabidiol), mas existem mais de 120 fitocanabinoides já identificados, além de outras substâncias ativas. Através da ligação destes fitocanabinoides aos receptores do sistema endocanabinoide, a Cannabis de uso medicinal ajuda no controle dos sintomas da endometriose, principalmente a dor,e da endometriose em si, diminuindo o tecido que se encontra fora do útero e impedindo uma migração maior do endométrio (tecido que reveste interiormente o útero) para fora do órgão”, explica Dra. Maria Teresa.
A Cannabis ameniza dores da endometriose? Estudo recente indicou que sim
Segundo este estudo, realizado recentemente por pesquisadores da Austrália, os sintomas da endometriose, como dor pélvica crônica, fadiga, dor menstrual, dispareunia (sexo doloroso), disquezia (evacuações dolorosas) e disúria (dor relacionada à micção) podem ser tratados com canabinoides, as moléculas medicinais da Cannabis.
Ao todo, 252 mulheres identificadas com endometriose no Canadá participaram da pesquisa, entre 2017 e 2020. E houve registros no aplicativo 16.193 sessões de uso de Cannabis pelas pacientes.
Aplicativo coletou os dados
Para fazer o estudo, os pesquisadores se valeram da plataforma de dados canadense Strainprint Technologies, um aplicativo de celular usado no Canadá para rastrear o uso legal de produtos à base de Cannabis para fins medicinais.
Ao identificar mulheres que já faziam uso da Cannabis para tratar endometriose, na ocasião da pesquisa, o estudo procurou investigar a eficácia autoavaliada das pacientes, as formas de uso, a dosagem e as proporções de canabinoides utilizados no tratamento.
Como resultado, 67,4% relataram fazer uso inalado da Cannabis – para tratar a dor, em 57% dos casos.
O estudo identificou que a forma inalada apresentou maior eficácia no tratamento da dor, enquanto a forma oral foi mais eficiente na melhora do humor e nos sintomas gastrointestinais. Esses sintomas gastrointestinais, embora fossem uma razão menos comum para o consumo de Cannabis (15,2%), tiveram a maior melhoria autorrelatada após o consumo.
“Cannabis é importante no tratamento dos sintomas, principalmente da dor e da endometriose em si, diminuindo o tecido que se encontra fora do útero e impedindo uma migração maior”, explica Dra. Maria Teresa Jacob
Além dos sintomas relacionados à endometriose, a Cannabis pode ser eficaz também nos tratamentos de:
- Cólica Menstrual
- Dispareunia (dor durante a relação sexual)
- Infecções Vaginais
- Ovários Policísticos
- Síndrome da Tensão Pré Menstrual
- Menopausa
A grande vantagem do uso da Cannabis é a ausência de efeitos colaterais importantes
Segundo a médica, efeitos como sonolência e sedação podem ocorrer durante o período de dosificação, isto é, até determinar a dose ideal para a paciente, mas normalmente são de leves a moderadas.Por se tratar de uma patologia crônica não existe tempo pré determinado para o tratamento da endometriose, podendo ser usado de forma contínua sendo interrompido somente em caso de gravidez ou amamentação.
“É através do conhecimento das ações do sistema endocanabinoide no órgão reprodutor feminino que podemos utilizar os fitocanabinoides que, atuando no nosso sistema endocanabinoide diminuíram a dor inflamatória, e a proliferação do endométrio para fora do útero, além da regressão das lesões já existentes”, pontua.
Mulheres, Cannabis e qualidade de vida: saiba como a planta atua na dor feminina
Nem sexo frágil e nem guerreiras. As mulheres estão cada vez mais em sintonia com o que há de contemporâneo no desenvolvimento da Medicina canabinoide para seu benefício.
Assim, encontram nos produtos à base de Cannabis, em suas diferentes vias de administração, o alívio para a dor em casos de endometriose.
Para a médica ginecologista Monique Maia, CRM: 32792, atualmente, as mulheres têm mais informações e já entendem que a Cannabis pode mitigar a dependência de conviver com a dor e medicações controladas.
O que é endometriose?
Endometriose é uma alteração do endométrio, a mucosa que envolve o útero. Durante a gravidez, é nele que o bebê se desenvolve. Por causas desconhecidas, ele sai de dentro do útero e vai para outras partes do sistema reprodutivo feminino e órgãos próximos.
Ela é identificada pela Classificação Internacional de Doenças (CID 10 – N80) e seus principais sintomas são dores na menstruação, em relações sexuais e até infertilidade.
A Ciência ainda não esclareceu totalmente as causas exatas da endometriose, mas uma das possíveis explicações seria o refluxo do sangue menstrual, que levaria o tecido a se desenvolver nas trompas e em outras partes do ovário.
Além das dores e da infertilidade, a endometriose pode causar os seguintes sintomas:
- Dor pré-menstrual, que pode ocorrer entre uma e duas semanas antes da menstruação
- Cansaço e fadiga
- Diarreia
- Sangramento na menstruação irregular e intenso
- Problemas para engravidar e, em último caso, infertilidade
- Dores fortes em relações sexuais (dispareunia)
- Sangramentos urinários e intestinais ao longo da menstruação.
Conheça mais pesquisas sobre Cannabis e endometriose
Neste estudo conduzido por cientistas do Joseph’s Hospital and Medical Center, em Phoenix (AZ), nos EUA, dos 240 participantes, 77 (32%) relataram ter experimentado Cannabis, com a maioria (67,5%) relatando que a planta foi muito ou moderadamente eficaz contra a endometriose.
Outro estudo, por seis cientistas australianos publicado no Journal of Obstetrics and Gynaecology do Canada chegou a um resultado parecido. Houve um total de entrevistas com 484 mulheres, sendo que apenas 13% relataram usar Cannabis para controle de sintomas. Porém, a eficácia autorrelatada por elas na redução da dor foi alta (7,6 de 10), com 56% também capazes de reduzir medicamentos farmacêuticos em pelo menos metade.
As mulheres relataram as maiores melhorias no sono e nas náuseas e vômitos. Os efeitos adversos foram infrequentes (10%) e menores.
Recentemente, também foi realizado um novo estudo para o tratamento da endometriose em camundongos por um professor da Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, Espanha.
A equipe de pesquisa estudou camundongos com implantes endometriais na pelve para imitar a endometriose em humanos. Aqueles com os implantes eram mais sensíveis à dor na pelve, que também pode estar associada a alterações emocionais e cognitivas – semelhantes aos sintomas observados em algumas mulheres com endometriose.
Depois de tratar os camundongos com uma dose diária de 2 mg/kg de THC, por 28 dias, a sensibilidade à dor melhorou na pelve. No entanto, não teve efeito sobre a dor em outras áreas, mostrando que o tratamento era específico para a dor originária da endometriose.
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