Ainda bebê, Heitor teve uma crise convulsiva aguda que deixou graves sequelas. Aos oito anos, começa a se recuperar com a ajuda da Cannabis
O que era uma noite tranquila de sono para Heitor Miguel da Silva Reis, aos cinco meses de idade, foi interrompida por uma crise de choro. Dormia um pouco mais e logo acordava, novamente, em prantos. Repetidas vezes que chamaram atenção da mãe, Luzenita Pereira dos Reis. Poderia haver algo de errado com seu filho.
No pediatra, porém, tudo era dado como normal. A criança não parava de chorar, mas o médico afirmava não haver nada de errado. Suspeitou que a mãe havia derrubado a criança, mas para ela a ideia soava como absurdo. “Se tivesse derrubado, eu falaria. Tudo que quero é resolver o problema.”
Um raio-x confirmou a versão da mãe, mas a criança não parava de chorar. Diante a insistência de Luzenita, Heitor ficou internado para observação. Dois dias antes do dia marcado para receber alta, o choro parou. O que poderia ser um bom sinal, não era. A interrupção veio acompanhada de uma crise convulsiva.
Nada de tremedeira. Heitor simplesmente travou. Já não olhava para a mãe. Somente um olhar fixo para o nada e o corpo todo duro. “Eu assoprava no rostinho dele, ele olhava para mim e voltava para cima. Bem mais tarde, por volta de 8 horas da noite, ele teve muita sonolência. Ele dormia e acordava tremendo”, lembra dos Reis. “Foi mais ou menos uma hora e meia fazendo isso. Depois ele parou. Ficou com o olhinho parado. Não se movia, não expressava nem uma reação.”
Ainda no hospital, o médico insistia que não havia motivo para se preocupar. Apesar da mãe observar claramente que seu filho não estava bem, o pediatra dizia que a criança estava normal. Somente depois de muita briga encontrou uma média que a deu razão. Com o corpo de bebê todo mole, a suspeita foi de meningite.
Com a suspeita, foi transferido de hospital às 5h da manhã. Quando já era 15h, o médico veio examinar e a conclusão de que era meningite. A doença resultou em uma crise convulsiva longa e aguda. Quase 24 horas depois do início.
Com medicamentos, a crise foi controlada. Após dez dias na UTI, a conclusão dos médicos foi que o diagnóstico preciso talvez tivesse chegado tarde demais e a criança sofreria com sequelas do episódio pelo resto da vida. Heitor teve uma paralisia cerebral.
Depois da crise, as sequelas
Com medicamentos, nunca mais teve convulsão. Com a fisioterapia, aos poucos começou a se movimentar melhor, mas as consequências seguiam em forma de espasmos musculares. Movimento involuntários pelo corpo que deixavam a criança toda rija, a ponto de sua mãe não conseguir deixá-lo sentado. Preso em uma cadeira de rodas, as sequelas também atrapalharam a fala de Heitor, que não pode experimentar uma infância como das demais crianças de sua idade.
Logo, o tratamento alopático trouxe suas consequências. “Não dava o resultado que a gente esperava, de controlar os espasmos, quando estava tomando e atacou muito o estômago dele. Descobrimos que estava com uma esofagite por causa dos medicamentos, muito refluxo, e a médica preferiu suspender.”
Tudo se agravou quando Heitor, por estar com o corpo sempre tenso, sofreu uma luxação no quadril. A lesão era agravada pelos espasmos, que provocavam muita dor. Os médicos, então, propuseram uma solução drástica: uma rizotomia. Um procedimento irreversível em que é interrompida a função dos nervos. Se, por um lado, não teria mais espasmos, Heitor estaria fadado a nunca se recuperar completamente.
Luzenita não aceitou o procedimento. Saiu em busca de ajuda e encontrou com outra mãe, que brigava para encontrar uma solução para a epilepsia de sua filha. Nesse caso, o tratamento com Cannabis medicinal a ajudava a manter as crises sob controle. Uma outra amiga, que também cuidava do filho epilético, disse a mesma coisa. Além das crises, o medicamento ainda ajudava em outras questões que prejudicavam seu filho.
O início da Cannabis medicinal
Não teve dúvidas. Diante a falta de alternativa, resolveu investir na Cannabis. Encontrou um médico prescritor e, em setembro de 2021, Heitor, já aos 8 anos, deu início ao tratamento canabinoide. “O meu sonho era ver meu filho sentadinho, bonitinho, e toda vez que eu ia sentar a ele, ele se esticava. Não ficava sentado”, conta Luzenita.
“Uns 20 dias depois que a gente começou a usar a Cannabis, ele sentou e ficou cinco minutos sentado. Deu para tirar as fotos dele. Para mim, isso devolveu minha esperança, pois ele tinha acabado de começar a tomar.”
Uma esperança que foi sendo reforçada a cada nova vitória de Heitor. “Cada dia que passa é uma conquista diferente. Na fisioterapia, aqui em casa, quando vai fazer suas atividades, ele tem surpreendido muito mesmo. Eu creio que com esse tratamento, fazendo ele certinho, meu filho vai conseguir se recuperar. A evolução é muito grande.”
Agende uma consulta com um médico prescritor de Cannabis medicinal que trata epilepsia
“A gente vê o resultado”
Agora, Luzenita não pensa duas vezes ao recomendar que outras mães superem o receio e também invistam no tratamento com a Cannabis. “Eu diria que aonde quer que tenha um pingo de esperança para os nossos filhos, da gente ver melhoria, ver se recuperando, com uma qualidade de vida melhor, a gente tem que apostar”, finaliza.
“A gente tem que arriscar sim e, se for para o bem deles, a gente tem que fazer sim o tratamento. Não é perda de tempo. A gente vê o resultado. Realmente é muito bom. Está bem no início, mas já dá para ver o resultado.”