Mais de um quarto da população pode ser afetada, em algum momento, por distúrbios psíquicos.
Estes variam em sintomas e origens, mas todos têm um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas que os enfrentam, assim como naqueles ao seu redor.
O canabidiol (CBD), um composto de origem natural conhecido por suas propriedades calmantes, é frequentemente mencionado como uma possível ajuda para esses distúrbios.
Ele é particularmente usado quando se trata de distúrbios de déficit de atenção, com ou sem hiperatividade (TDAH).
Os distúrbios de déficit de atenção, incluindo o TDAH, são condições comportamentais que afetam cerca de 6% das crianças. Muitas vezes, persistem na idade adulta, afetando aproximadamente 3% da população adulta no Brasil.
Dada a natureza calmante do canabidiol (CBD), é compreensível que surja o interesse em seu potencial no tratamento destes distúrbios, especialmente no contexto de hiperatividade.
Então, para entender melhor sobre quais benefícios deste canabinoide nesta condição, continue lendo. Aqui você encontrará informações sobre:
- O canabidiol no tratamento do TDAH
- Considerações legais e éticas do uso de canabidiol para TDAH
- Depoimentos de pacientes que usaram canabidiol para gerenciar o TDAH
- Efeitos colaterais possíveis do uso de canabidiol no contexto do TDAH
- O uso de canabidiol para o TDAH requer uma abordagem de longo prazo?
- Como iniciar um tratamento à base de canabidiol para TDAH?
O canabidiol no tratamento do TDAH
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurológico do desenvolvimento que impacta a capacidade de alguém manter a concentração, controlar impulsos e permanecer calmo.
Embora seja mais comum em crianças, pode também afetar adultos.
Os sinais do TDAH podem compreender:
- Dificuldade em manter o foco ou a atenção;
- Problemas com o seguimento de instruções ou a execução de tarefas;
- Desafios na organização de atividades ou tarefas;
- Tendência a ser frequentemente distraído;
- Inquietação ou dificuldade em ficar parado;
- Comportamento impulsivo ou dificuldade em esperar a vez;
- Tomada de decisões impulsivas.
O TDAH pode ser gerenciado com uma abordagem que inclui medicamentos, terapia e ajustes no estilo de vida.
Estima-se que 8 milhões de adultos e 6 milhões de crianças tenham recebido o diagnóstico de TDAH.
No entanto, os medicamentos comumente prescritos para o TDAH podem apresentar efeitos colaterais, tais como:
- Perturbações do sono;
- Redução do apetite;
- Dores de cabeça;
- Desconforto estomacal;
- Alterações de humor e irritabilidade;
- Tiques faciais;
- Alucinações;
- Mudanças extremas de comportamento.
Por outro lado, o canabidiol está emergindo como uma nova opção promissora de tratamento, com menos efeitos colaterais graves.
Originário da planta da Cannabis, o CBD é uma molécula ativa com diversas propriedades terapêuticas.
De forma não psicoativa, o CBD é empregado no tratamento de várias condições, como problemas neurológicos, inflamações, dores crônicas, estresse, etc.
Especialistas afirmam que há uma conexão entre o neurotransmissor dopamina e o TDAH. A falta desse neurotransmissor pode interromper a comunicação entre células nervosas.
Os endocanabinoides, que o corpo produz internamente quando necessário, atuam como importantes moduladores.
Semelhantes à dopamina e serotonina, desempenham um papel na recompensa, motivação e flexibilidade comportamental.
É possível que os canabinoides encontrados na Cannabis, muito semelhantes aos endocanabinoides, também provoquem efeitos terapêuticos.
Benefícios potenciais do canabidiol para pessoas com TDAH
Diferente do THC, que age nos receptores canabinoides no cérebro, o CBD atua contribuindo para o funcionamento de todos os receptores do sistema endocanabinoide.
Esses receptores regulam a dor e o neurotransmissor serotonina, contribuindo para nosso bem-estar.
Não é surpresa que pesquisas tenham revelado vários benefícios do CBD, incluindo:
- Redução da inflamação;
- Regulação do sistema imunológico;
- Alívio da dor;
- Propriedades antipsicóticas;
- Controle de convulsões;
- Redução da ansiedade.
Embora o CBD ainda precise de mais pesquisas para ser considerado uma opção de tratamento estabelecida para o TDAH, sabe-se que ele pode ajudar a aliviar sintomas comuns associados a essa condição.
Problemas de concentração, falta de foco e curta atenção são sintomas cognitivos típicos do TDAH.
O CBD pode melhorar a clareza mental, interagindo com receptores canabinoides específicos, resultando em níveis aprimorados de concentração durante atividades como trabalho ou estudo.
Além disso, o canabidiol pode reduzir a ansiedade e o estresse, que frequentemente contribuem para a falta de energia e concentração.
O canabidiol também pode interagir com os receptores canabinoides e de serotonina no cérebro, regulando comportamentos relacionados à ansiedade.
Existem evidências de que o CBD pode ser um tratamento eficaz para vários tipos de ansiedade, incluindo transtorno de pânico e transtorno de ansiedade social.
A Interligação entre o sistema endocanabinoide e o TDAH
O sistema endocanabinoide é uma complexa rede de sinais e receptores químicos que desempenham papéis fundamentais em diversos estados fisiológicos e fisiopatológicos.
Sua principal função reside na regulação do equilíbrio interno e da estabilidade do corpo humano.
Assim sendo, o sistema endocanabinoide (SEC) controla uma ampla gama de funções corporais essenciais.
Estas incluem sono, humor, percepção de dor, temperatura, apetite, metabolismo, digestão, resposta imunológica e neuroproteção.
Os componentes-chave de um SEC saudável incluem endocanabinoides, receptores canabinoides e enzimas.
Este sistema também é composto pelos receptores CB1 e CB2, ativados pelos endocanabinóides 2-AG e anandamida.
Estudos extensos indicam uma possível conexão entre o sistema endocanabinoide e o TDAH, particularmente relacionada à transmissão anormal de dopamina e à deficiência de dopamina.
Naturalmente, nosso corpo produz substâncias químicas chamadas endocanabinoides.
No contexto do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), pessoas afetadas geralmente apresentam níveis mais baixos desses endocanabinoides, o que pode agravar os sintomas.
Uma deficiência de endocanabinoides pode complicar a vida das pessoas com TDAH, mas a Cannabis oferece uma solução potencialmente útil.
Os compostos da Cannabis imitam os endocanabinoides naturais, ativando os receptores dos mesmos.
Existe uma interação bidirecional entre a dopamina e o SEC, onde a dopamina influencia esse sistema e os canabinoides afetam a dopamina.
Modelos animais sugerem que a dopamina modula o sistema endocanabinoide, resultando em menor sensibilidade dos receptores CB1 e níveis elevados de anandamida em pessoas com TDAH.
Isso levanta a possibilidade de que tratamentos, como a Cannabis, que restaurem a função CB1 possam ser benéficos no tratamento do TDAH.
Estudos científicos sobre canabidiol e TDAH
O estudo Cannabis for the Treatment of Attention Deficit Hyperactivity Disorder: A Report of 3 Cases nos revela evidências de como a Cannabis pode ajudar pacientes com TDAH.
Neste relato de caso, descrevem-se pacientes que incorporaram a Cannabis como parte de seu tratamento, com resultados positivos.
Após o início do uso da Cannabis, foram observadas melhorias nas escalas de classificação em comparação com os registros prévios ao uso da Cannabis.
As pontuações na escala que mede a melhoria da depressão aumentou de 8 a 22 pontos (30 a 81%).
Por outro lado, as pontuações que medem a melhoria da ansiedade, variaram de 0 a 27 pontos (até 33%).
As melhorias na escala que avalia a regulação emocional variaram de 2 a 7 pontos (22 a 78%), e a escala que aborda a desatenção, registrou melhorias de 2 a 8 pontos (7 a 30%).
Depoimentos de pacientes que usaram canabidiol para gerenciar o TDAH
Pesquisadores canadenses acompanharam três pacientes que utilizavam Cannabis no tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade
São muitas as indicações existentes para o tratamento com Cannabis medicinal.
Para algumas patologias, como epilepsia e Parkinson, existem mais evidências científicas dos benefícios proporcionados pelos fitocanabinoides.
Em outras, principalmente na psiquiatria, ainda faltam evidências que ajudem a dar certeza aos médicos prescritores. Como em casos de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
Infelizmente, a base de evidências limitada pode persistir devido a desafios importantes, como a dificuldade na realização de ensaios randomizados e controlados por placebo com Cannabis.
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é uma dessas condições em que o interesse pela Cannabis é alto.
Mais da metade das crianças e adultos com TDAH têm condições psiquiátricas comórbidas, como distúrbios do sono, transtornos de humor e ansiedade e transtorno desafiador de oposição.
Além da farmacoterapia de primeira linha com estimulantes, discussões na internet frequentemente indicam e defendem o uso de Cannabis para alívio dos sintomas de TDAH.
Na ausência de dados científicos, os relatos de caso são valiosos para apresentar novas observações, gerar hipóteses e fornecer análises aprofundadas de um assunto de estudo, bem como suas condições contextuais relacionadas.
Um grupo de pesquisadores canadenses se apoiaram na experiência de três pacientes e avaliaram os benefícios vivenciados diante da automedicação com Cannabis medicinal.
As apresentações de casos descritas nesta seção representam um relato dos depoimentos dos pacientes, com informações verificadas nos prontuários.
Os pacientes tiveram a oportunidade de revisar essas descrições quanto à precisão antes da publicação.
Paciente 1
Um homem branco de 23 anos com TDAH e transtorno de ansiedade generalizada decidiu usar Cannabis depois de saber de sua eficácia para o TDAH online.
Medicado com metilfenidato, pregabalina, fluoxetina e clonidina, ele experimentou Cannabis pela primeira vez na adolescência.
Ele a usava periodicamente, pois a Cannabis melhorava seu foco.
Consultou seu médico e recebeu uma autorização para Cannabis medicinal na proporção CBD:THC 20:1, duas vezes ao dia.
Atualmente alterna entre tomar óleo de canabidiol por via oral ou fumar flores. Embora perceba que o óleo é menos prejudicial para os pulmões e mais adequado em algumas situações, sente que fumar é mais relaxante.
Ele descreve a Cannabis como uma “mão amiga muito boa” para complementar seus outros medicamentos e se percebeu mais aberto com os outros, menos ansioso e suas emoções são menos exageradas.
A Cannabis melhorou sua capacidade de manter o foco.
Sobre sua vida antes da Cannabis, ele diz: “Eu estava em todo lugar, subindo nas paredes. Realmente não podia focar em uma tarefa por muito tempo. Eu fazia metade de três quartos de uma tarefa e depois seguia em frente e fazia uma tarefa completamente diferente.”
A Cannabis, como ele descreve, “o nivela” e agora ele pode concluir tarefas com mais eficiência.
Embora a reação dos membros de sua família à Cannabis tenha sido mista (com alguns indivíduos muito solidários e outros céticos), ele acredita que todos notaram um impacto positivo em seu comportamento.
Desde que passou a tomar Cannabis regularmente, encontrou e manteve um emprego bem-sucedido.
Paciente 2
Um homem caucasiano com TDAH faz uso de metilfenidato desde o ensino primário.
Ele não gostava de ser medicado com estimulantes porque sentia que eles mudavam sua personalidade, e continuou a lutar com a regulação emocional.
Aos 17 anos, recebeu prescrição de lítio e decidiu iniciar o óleo de canabidiol (CBD:THC na proporção de 20:1) uma vez ao dia (na hora de dormir) depois que um membro da família o recomendou.
Tomar Cannabis, diz ele, fez com que se sentisse mais relaxado e o ajudou a se concentrar e se sentir mais “ele mesmo”.
A combinação de lítio (300 mg na hora de dormir), Cannabis (1 ml na hora de dormir) e um bom sistema de suporte, ele diz, mudou completamente sua vida.
Anteriormente, ele não tinha motivação, não se saía bem na escola e foi internado para tratamento psiquiátrico.
Desde o início da Cannabis, foi desmamado com sucesso de seus outros medicamentos para TDAH (toma apenas lítio para depressão e Cannabis) e mudou completamente sua vida.
“Eu definitivamente era muito mais nervoso quando estava na escola… Ela [a Cannabis] ajudou a me concentrar muito mais e a aliviar meus remédios para TDAH”.
Hoje ele trabalha em tempo integral e administra um negócio, estabelece metas de longo prazo para o futuro e fez muitos novos amigos, o que melhorou sua vida social.
Paciente 3
Um homem de 22 anos foi diagnosticado com TDAH quando tinha 20 anos e começou a se automedicar com Cannabis.
Ele não tinha histórico prévio de uso de Cannabis.
No entanto, com dispensários abrindo no Canadá e por influência de um membro da família que estava considerando seu uso devido a ansiedade, ele decidiu experimentar também.
Ele sente que a Cannabis o acalma, o ajuda a desacelerar, se concentrar e a dormir à noite.
Ele acredita que os canabinoides funcionam sinergicamente com seus outros medicamentos (dextroanfetamina, amantadina e pregabalina) para melhorar sua concentração e controlar seus pensamentos acelerados, ansiedade e emoções.
Antes do tratamento com essa combinação e quando criança, ele descreve:
“Não ouvia os adultos. Não tinha controle das emoções e vivia esquecendo onde coloquei as coisas. Perdi muito minha carteira e chaves enquanto crescia.”
Tendo experimentado várias cepas, proporções, e métodos de consumo, ele prefere uma mistura de Cannabis Indica com maior teor de THC e menor teor de CBD.
Atualmente, ele fuma um produto que tem uma relação CBD:THC de 0:18 na hora de dormir e diz que essa formulação não o faz se sentir eufórico.
Ele tentou comestíveis e óleos, mas não sentiu melhora em seu sono.
Efeitos colaterais possíveis do uso de canabidiol no contexto do TDAH
Todos os pacientes relataram efeitos colaterais leves do uso de Cannabis.
O paciente 2, que constantemente toma óleo por via oral, teve problemas de memória de curto prazo.
Por outro lado, os pacientes 1 e 3, que alternam entre as vias oral e inalatória, relataram boca seca e sonolência.
Os 3 pacientes com TDAH que adicionaram Cannabis ao seu regime de tratamento tiveram efeitos terapêuticos positivos.
As melhorias em seus sintomas e qualidade de vida foram substanciais, como a capacidade de manter as emoções sob controle (3 pacientes) ou obter e se destacar em um novo emprego com mais responsabilidade (2 pacientes).
Notavelmente, todos os três pacientes usaram Cannabis como adjuvante de seus outros medicamentos (por exemplo, estimulantes, antidepressivos ou estabilizadores de humor).
O paciente 1 descreveu a Cannabis como “uma ajuda muito boa” para complementar seus outros medicamentos.
Por outro lado, o paciente 3 conseguiu interromper sua farmacoterapia estimulante, mas reconheceu que a “Cannabis, além de uma mudança nos medicamentos prescritos para o lítio, ajudou a mudar sua vida”.
O uso de canabidiol para o TDAH requer uma abordagem de longo prazo?
Dada a natureza crônica do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), muitos profissionais de saúde consideram que o uso de canabidiol (CBD) como parte do tratamento do TDAH pode exigir uma abordagem de longo prazo.
O TDAH é uma condição que frequentemente persiste da infância até a idade adulta, e seus sintomas podem impactar a vida cotidiana ao longo do tempo.
Portanto, a gestão contínua e a avaliação regular do uso de CBD podem ser necessárias para manter e controlar eficazmente os sintomas do TDAH.
No entanto, é fundamental que qualquer decisão de uso de CBD seja feita em consulta com um profissional de saúde qualificado.
Somente este profissional pode adaptar o tratamento às necessidades individuais do paciente e monitorar os resultados a longo prazo.
A dosagem, a segurança e a eficácia do CBD para o TDAH ainda são áreas de pesquisa em desenvolvimento.
Portanto, a supervisão médica é essencial para garantir o uso adequado e seguro do CBD como parte do tratamento de longo prazo para o TDAH.
Como iniciar um tratamento à base de canabidiol para TDAH?
Iniciar um tratamento à base de canabidiol (CBD) para TDAH requer um processo cuidadoso e orientado por profissionais de saúde.
O primeiro passo fundamental é buscar orientação médica especializada.
Um profissional de saúde qualificado pode avaliar a gravidade dos sintomas do TDAH, histórico médico e considerar se o CBD é uma opção adequada de tratamento.
Uma fonte confiável para se conectar aos médicos prescritores é o portal Cannabis & Saúde.
Aqui, você pode encontrar recursos, pesquisas e informações atualizadas sobre o tratamento com CBD, bem como diretrizes para marcar uma consulta com especialistas que têm experiência em terapias baseadas em Cannabis.
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Lembre-se que o acompanhamento médico regular é essencial para avaliar a eficácia do tratamento e fazer ajustes conforme necessário.
Conclusão
O canabidiol está se destacando como uma opção promissora no tratamento do TDAH, oferecendo a possibilidade de redução significativa dos sintomas, como hiperatividade e impulsividade.
Embora mais pesquisas sejam necessárias para uma compreensão completa de seus efeitos a longo prazo, as descobertas até agora e os relatos de casos sugerem que o canabidiol pode proporcionar alívio valioso para aqueles que lutam com o TDAH.
No entanto, é importante que os pacientes considerem essa opção em consulta com seus profissionais de saúde, explorando seu potencial como parte de um plano de tratamento abrangente.
Portanto, conte com o apoio dos médicos do portal Cannabis & Saúde neste processo!