Após conviver com dores e depressão por boa parte de sua vida, a aposentada Maria Letícia de Barros finalmente encontrou alívio com a Cannabis medicinal
A dor é uma constante na vida da aposentada Maria Letícia Marra de Barros , 66, desde a juventude. “O povo me criticava porque eu tinha dor. Minhas irmãs me chamavam até de Maria das Dores. Eu tenho desvio na coluna, mas as dores eram muito intensas”, lembra.
Não era só isso que atrapalhava Letícia. Junto à dor limitante, veio a depressão. ”A gente não tem ânimo para fazer nada. É cíclico. Tinha épocas que ficava boa, mas em outras ficava parada. Não querendo nada com a nada, mas tinha que lutar. Não queria levantar da cama, mas a gente vai em frente mesmo ruim.”
E foi assim que tratou de viver seus anos. Superando dor e a depressão para que conseguisse trabalhar como secretária no Tribunal de Justiça de Minas Gerais e, dentro do possível, seguir sua vida. “Atrapalhava muito, né? Tinha que pegar os processos e alguns pesam muito. Eu tenho artrose nos dedos e tinha hora que eu precisava de ajuda, porque não dava conta.”
Enfim, o diagnóstico de fibromialgia
Somente no ano de 2008 que Maria Letícia pôde, enfim, descobrir o motivo de tantas dores. Foi diagnosticada com fibromialgia, mas ela teimou em não aceitar a condição. “Tudo que faço, eu sinto dor, mas eu achava que não tinha isso. Achava que que gente que tem fibromialgia não consegue levantar da cama, mas eu faço tudo. Com dor, tô trabalhando, produzindo”, conta.
“Eu não concordei. Fui em três médicos, todos falavam que era fibromialgia. Até que um ortopedista explicou que, por tomar antidepressivos, eu não ficava acamada. Ele tira a ansiedade, o que ajuda a prevenir a dor.”
A aposentada somou mais medicamentos à sua rotina, mas o efeito era limitado. Com o passar do tempo, somou a insônia à lista e, com isso, mais e mais remédios alopáticos para lidar com sua condição. Tanto, que nem conseguia diferenciar os efeitos colaterais que sentia.
“É muita química. Às vezes eu acho que eu não vejo os efeitos colaterais, mas eles existem. Eles existem dentro de mim e eu não tô percebendo. Acho que aquilo é normal e é um efeito colateral do remédio que passa despercebido.”
“Teve um remédio que nos primeiros cinco dias eu tive que tirar a licença do serviço para poder o organismo se adaptar ao remédio. Então você imagina como é forte um trem desse. O povo no hoje sabe que ele pode levar até a demência, de tão forte que o remédio.”
A Cannabis traz esperança contra as dores e a depressão
A perspectiva de Maria Letícia só começou a mudar em 2021. Em um grupo de pacientes com fibromialgia no Facebook, começou a entrar em contato com cada vez mais pacientes que utilizam a Cannabis medicinal como tratamento.
“Eu comecei a ver tudo que tinha sobre a Cannabis. Vi muita live, acompanho tudo que sai no site de vocês (do portal Cannabis & Saúde) e eu fiquei muito interessada”, conta. “Eu falava até que ia comprar maconha para fumar. Só que não é a mesma coisa, né? Lógico que não ia fazer isso. Uma velha dessa fumando maconha, mas eu sempre fui interessada no efeito terapêutico dela.”
Resolveu seguir pelo caminho legal. Questionou sua psiquiatra, a médica Natalia Soledad. “Fui conversando a doutora. Deixa eu tentar, assim eu tento sair da alopatia. Porque o paciente tem que querer, né? O médico não pode chegar e falar que vai dar a Cannabis porque ainda tem muito preconceito. Eu cheguei e falei e ela achou muito interessante.”
A aposentada começou o tratamento com a Cannabis em dezembro do ano passado. Em quinze dias, começou a sentir a diferença. “Eu falei para minha filha: você viu que eu não reclamei de dores hoje?”
Apesar de curto o período de experiência, também não sentiu mais as recorrentes crises de depressão. No entanto, para ela, a comprovação mais efetiva do benefício do tratamento canabinoide foi no sono.
“Eu tomo a Cannabis de noite e três horas depois é quando tenho que tomar o medicamento para dormir. Mas começou que eu passei a dormir antes e esquecia de tomar esse remédio”, diz. ”Dormia a noite inteira sem tomar o medicamento para dormir. Aí eu, por decisão minha, decidi tirar o remédio para dormir.”
“O remédio do futuro”
Para ela, esse é só o começo. “Eu tô me sentindo bem. Eu não tava com ânimo para fazer nada. Eu acordava e tinha vontade de ficar deitada na cama. Agora eu acordo, levanto, faço o que eu tenho que fazer. Espero que daqui uns dias eu não tome mais nada de alopatia. Só a Cannabis.”
Apesar de ainda estar no início de sua experiência com Cannabis, Maria Letícia espera seguir firme no tratamento, eliminar os alopáticos, e colher cada vez mais frutos. E aconselha quem ainda tem resistência à Cannabis a seguir o mesmo caminho.
“Tem que tentar, porque, para mim, é o remédio do futuro. Ele é bom para muita coisa e vai ser bom para ainda mais. Já tem uma gama grande de doença que está sendo tratada e vai ser cada vez mais, porque tem muita coisa sendo estudada. É uma medicina que antigamente o povo usava muito, mas foi perdida.”