Oncologista especialista em cânceres do sistema gastrointestinal Renata D’Alpino explica como utiliza a prescrição de Cannabis medicinal em sua prática clínica
Uma em cada seis mortes no mundo está relacionada ao câncer, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). A principal forma de combater essa epidemia global é a adoção de hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, exercícios físicos e evitar o tabagismo e consumo excessivo de bebidas alcóolicas.
A detecção precoce também é fundamental. Descobrir a doença em seus estágios iniciais aumenta muito a possibilidade de cura, evidenciando a importância de exames rotineiros. Foi para destacar essas informações, atingindo cada vez mais pessoas, que o Ministério da Saúde, por meio da portaria GM nº707, de dezembro de 1988, instituiu o Dia Nacional de Combate ao Câncer, realizado no dia 27 de novembro.
Ao contrário do que se pensa, o câncer não se trata de uma única doença. É um conjunto com mais de uma centenas de patologias que têm em comum o crescimento descontrolado das células.
A Cannabis pode ajudar no tratamento de câncer?
De acordo com a oncologista especialista em tumores do sistema gastrointestinal e neuroendócrinos, Renata D’Alpino, a principal forma que a Cannabis pode auxiliar os pacientes é no tratamento dos sintomas, tanto da enfermidade em si quanto dos tratamentos convencionais, como quimioterapia.
“Principalmente para a dor, perda de apetite, fadiga”, afirma. “Quando eu percebo que não estou conseguindo manejar bem os sintomas, eu já indico para o tratamento com Cannabis medicinal.”
Segundo a médica, após cerca de dez dias de tratamento, já dá para notar uma melhora substancial no apetite e na dor dos pacientes. “Por conta do tratamento oncológico e até da própria doença (como no câncer no sistema gastrointestinal), o apetite é uma queixa muito comum dos pacientes. O enjoo também é algo para o qual a gente tem utilizado.”
“Na questão da dor, a gente não vai parar de usar os analgésicos. A cannabis vai entrar como tratamento adjuvante. Você está usando derivados de morfina, ou outras espécies de medicações analgésicas, e não está tendo um bom controle, pode ajudar a Cannabis para conseguir esse melhor controle.”
De acordo com a oncologista, a resposta do tratamento com a Cannabis varia em cada paciente. “Tem paciente que funciona super bem. Melhora da água pro vinho, seja o apetite, o enjoo, a fadiga. Sempre tem uma melhora, o que o que difere é a magnitude. Às vezes melhora na questão do humor.’
Quando a questão é sobre as propriedades antitumorais da Cannabis, no entanto, D’Alpino é mais reticente. “O paciente tem uma melhora no bem-estar, então a doença pode melhorar por causa disso”, afirma.
“A gente ainda precisa de mais dados científicos sobre a questão. Não sabe se o paciente vive mais porque melhora os sintomas ou se realmente tem um efeito antitumoral. É uma questão interessante e a gente vai ficar atento nos próximos anos com as pesquisas científicas que vão sair.”