Natália Soledade explica como a Cannabis na psiquiatria virou sua primeira opção de tratamento em casos como insônia e ansiedade
A psiquiatria entrou desde cedo na vida de Natália Soledade. Ainda jovem, com psiquiatras na família, passou a observar a transformação vivida pelos pacientes. “Gostava muito de ver como eles ficavam bem ao serem tratados”, lembra. “Não pensei em fazer outra coisa. Uma médica que cuidava da saúde emocional das pessoas.”
Formada há 16 anos, dividiu sua especialização entre o cuidado de crianças e adolescentes e a psicofarmacologia, com direito a pós-graduação na renomada Universidade Harvard, além de oito anos de experiência atendendo distúrbios alimentares no Hospital das Clínicas.
Mesmo com tanto estudo e experiência, havia algo que incomodava a psiquiatra. “Cerca de 30% a 40% dos pacientes com depressão, ansiedade, insônia, não respondem ao tratamento convencional”, conta. “É uma angústia muito grande não poder ajudar um paciente. Já tentou vários tipos de medicamentos, mas ou não responde ou não se adapta aos efeitos colaterais.”
A Cannabis na psiquiatria
Foi em uma de suas especializações em psicofarmacologia que Soledade escutou pela primeira vez que a Cannabis medicinal poderia ser um caminho para reduzir essa angústia, mas o assunto não a cativou de imediato.
“Eu tinha um preconceito no começo, mas é porque eu mesma não conhecia. A gente só dá a mão para quem a gente conhece.”
Em 2018, com a possibilidade de adquirir medicamentos à base de Cannabis legalmente no Brasil e o aumento da procura em seu consultório pelo tratamento, a psiquiatra viu que não podia ficar de fora.
Primeiros pacientes
“Minha primeira paciente com canabidiol já se tratava há muitos anos comigo. Dependente de medicamentos e um quadro grave de dores crônicas”, diz. “Cada consulta que ia, com diferentes médicos, vinha com um novo medicamento. Remédios controlados que não davam melhora alguma. Não conseguia praticamente andar.”
Até que a própria paciente, por uma notícia de jornal, soube da possibilidade do uso da Cannabis e foi conversar com a médica. “Nessa paciente que decidi tentar pela primeira vez e ela teve uma super melhora do quadro das dores. Conseguiu retirar a dependência dos medicamentos e ficou super bem. Com essa melhora, comecei a pensar em outros pacientes. Em outros casos.”
Desde então, não parou mais de estudar e se aprofundar no sistema endocanabinoide, mas foi a experiência positiva com mais e mais pacientes que deixou claro que estava no caminho certo.
“Os pacientes começaram a melhorar, tendo menos efeitos colaterais. Muitos pacientes dependentes de medicamentos, com o canabidiol, começaram a desmamar. Me estimulou a cada vez mais prescrever. Se é bom para o paciente, é um remédio que serve.”
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Desmame
“Uma coisa que me chamou atenção foi o desmame”, prosseguiu. “O perfil dos efeitos adversos são bem menores que outros tratamentos, que levam ao ganho de peso, perda de libido, Apatia afetiva. O canabidiol consegue tratar ansiedade e insônia sem tantos efeitos colaterais como as medicações psiquiátricas tradicionais.”
Atualmente, cerca de metade de seus pacientes estão em tratamento com o canabidiol. No entanto, para os novos, já se tornou sua primeira opção de tratamento, quando existe indicação. “Nos pacientes novos, é o canabidiol. O problema é que tem paciente em tratamento há cinco, dez anos, que só de falar em mudar o remédio, já fica mal.”
No entanto, ela explica os benefícios da substituição. “Retirar os remédios tarja preta que causam dependência e troca por um tratamento com canabidiol, que não causa dependência. Não tem praticamente efeitos colaterais, além de um super ganho.”
“Com os meus pacientes, o canabidiol tem taxa zero de abandono do tratamento, o que acontece bastante com o tratamento convencional”, continuou. “O canabidiol é importante também porque não tem a síndrome da descontinuação. É muito difícil para o paciente parar um medicamento psiquiátrico.”
Por mais tratamentos com Cannabis na psiquiatria
Por todos esses motivos, ela acredita que a Cannabis medicinal será cada vez mais comum nas clínicas psiquiátricas. “É uma caminhada promissora. Vejo ela em curva ascendente”, afirma.
“A gente tem estudos mais consistentes, maior aceitação nos centros acadêmicos e entre os colegas. Vem diminuindo o estigma sobre os pacientes e profissionais prescritores”, concluiu. “Mais informações científicas, estudos mais consistentes e em maior número, acesso maior dos profissionais. A realidade é essa tendência e não tem como voltar atrás.”