No mês de conscientização de prevenção ao suicídio, veja como a Cannabis medicinal pode ajudar
A cada 100 mortes no mundo, uma é por suicídio. No Brasil, uma pessoa põe fim à própria vida a cada 42 minutos. Foram 12.895 suicídios no país em 2020. Estimativas indicam que cerca de dez vezes mais pessoas tentaram. Em comum entre todos, está a dor. É preciso fortalecer ações para a prevenção de processos autodestrutivos, principalmente o suicídio.
É com esse objetivo que foi criado o Dia Mundial da Prevenção ao suicídio, realizado 10 de setembro. No Brasil, desde 2014, o dia se estendeu para todo o mês, com o Setembro Amarelo.
Histórico da campanha
A campanha começou nos EUA, em 1994, quando o jovem Mike Emme, de 17 anos, cometeu suicídio. Seus pais e amigos não perceberam que o jovem tinha sérios problemas psicológicos e não conseguiram evitar sua morte.
Mike era um rapaz muito habilidoso e restaurou um automóvel Mustang 68, pintando-o de amarelo. Por conta disso, ficou conhecido como “Mustang Mike”. No dia do velório, foi feita uma cesta com muitos cartões decorados com fitas amarelas. Dentro deles tinha a mensagem “Se você precisar, peça ajuda.”.
A iniciativa foi o estopim para um movimento importante de prevenção ao suicídio, pois os cartões chegaram realmente às mãos de pessoas que precisavam de apoio. Em consequência dessa triste história, foi escolhido como símbolo da luta contra o suicídio, o laço amarelo.
De acordo com a Associação Brasileira de Pisiquiatria e o Conselho Federal de Medicina, 96,8% dos casos de suicídio registrados estão associados com histórico de doenças mentais, que podem ser tratadas.
A depressão é a principal delas
Um transtorno mental frequente. Em todo o mundo, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofram com depressão, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde. é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma importante para a carga global de doenças.
Mulheres são mais afetadas que homens. No pior dos casos, a depressão pode levar ao suicídio. Existem vários tratamentos medicamentosos e psicológicos eficazes para depressão.
Cannabis no tratamento da depressão
Uma delas, encampada pela USP, em parceria com a University Research Foundation, da Dinamarca, traz resultados bastante animadores para o uso do canabidiol para o tratamento de depressão.
Em testes realizados com camundongos, o CBD se revelou não só mais rápido em sua ação, como seus efeitos se mostraram mais duradouros.
Os pesquisadores verificaram que, sete dias depois, houve aumento na quantidade de proteínas sinápticas localizadas no córtex pré-frontal, tal como acontece em humanos.
Tais resultados só comprovam o que já vem sendo observado desde a década de 60, quando o químico Raphael Mechoulam isolou o canabidiol pela primeira vez, o que viria a ser uma conquista fundamental para a descoberta do sistema endocananoide – este nos anos 80.
Como o canabidiol age na depressão?
Na mesma época, a equipe de Mechoulam viria a fazer outras descobertas importantes, entre elas, o isolamento dos endocanabinoides anandamida e 2-AG.
Presentes em quase todos os tecidos e órgãos humanos, eles são responsáveis, junto aos receptores CB1 e CB2, por manter o organismo em equilíbrio, ou seja, em homeostase.
Fitocanabinoides como o CBD atuam em sinergia com os endocanabinoides, potencializando seus efeitos e promovendo o bem-estar.
No caso da depressão, como já destacado, a pessoa portadora pode sofrer com a deficiência dos neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer.
Nesse sentido, o canabidiol ajuda a restabelecer as funções dessas substâncias, estimulando sua produção e circulação pelo sistema nervoso.
No estudo com roedores realizado pela USP, por exemplo, verificou-se que o CBD induziu um aumento rápido e significativo nos níveis da proteína conhecida como fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), uma neurotrofina fundamental para a sobrevivência neuronal e para a formação de novos neurônios.
Benefícios do canabidiol
Além de agir mais rapidamente entre os tratamentos para depressão, o CBD pode ser até mais eficaz do que estabilizadores de humor tradicionais.
É o que sugere a pesquisa The Impact of Cannabidiol on Psychiatric and Medical Conditions, na qual estudos in vitro apontam para uma ação estabilizadora da micróglia (tipo de célula do sistema nervoso central) da mesma forma que o lítio.
Isso sem contar que o canabidiol, na maioria dos casos, provoca muito menos efeitos colaterais, principalmente se comparado com os antidepressivos mais utilizados.
O lítio, por exemplo, em certas doses, pode levar o paciente a ter diarreia, acne e inchaço da glândula tireoide. Até agora, nenhuma pesquisa ou estudo controlado sugere que o CBD possa induzir a reações adversas como essas.
Então, pode-se dizer com relativa segurança que ele é não só mais rápido como menos danoso à saúde, se comparado com os fármacos convencionais contra a depressão.
Riscos e efeitos colaterais do óleo de canabidiol
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já se pronunciou dizendo que o óleo de canabidiol é normalmente seguro: “o CBD é geralmente bem tolerado e tem um bom perfil de segurança. Os efeitos adversos relatados podem ser o resultado de interações entre o CBD e os medicamentos que os pacientes estão tomando”, é o que consta no Critical Review Report, publicado pela entidade em 2018.
Extratos de canabidiol que contêm outros canabinoides e fitoquímicos apresentam risco ainda menor. No entanto, alguns dos raros efeitos colaterais do canabidiol podem ser sonolência, diarreia, hipotensão e boca seca.
De qualquer forma, é fundamental o acompanhamento de um médico psiquiatra prescritor de Cannabis medicinal. O uso de substâncias controladas, nas quais são conhecidas as proporções dos canabinoides, também é de extrema importância para o sucesso do tratamento, já que altas doses de THC podem gerar efeitos adversos em pessoas com tendência à esquizofrenia e outros distúrbios psicóticos.
Conclusão
O que não faltam são opções de tratamentos para depressão, mas, em contrapartida, nem sempre eles surtem os efeitos esperados, como vimos neste conteúdo.
Nesse sentido, o CBD é, em muitos casos, o único medicamento que funciona de verdade, não só com rapidez como sem as reações adversas dos fármacos comuns.