Há algumas semanas, a Colômbia ampliou as possibilidades do mercado de Cannabis no país, legalizado em 2018. O governo de lá autorizou a fabricação de têxteis, alimentos e bebidas à base da planta, mas o principal: a exportação de flores secas de grau farmacêutico.
Esse mercado de flores desidratadas para uso medicinal é maior do que o mercado até então permitido, o de extratos de cannabis. Quem nos explica é Julian Wilches, cofundador e diretor de regulamentação da Clever Leaves, uma das gigantes do setor com sede na Colômbia, investidores do Canadá e ações em Nasdaq. Antes de ser executivo, ele foi diretor de Política de Drogas do Ministério da Justiça colombiana.
“Este é o resultado de uma colaboração de 2 anos e meio entre as empresas de Cannabis da Colômbia e o governo daqui. Temos a convicção de que é uma grande conquista”, comemorou o executivo em entrevista ao Cannabis & Saúde.
Julian Wilches é o responsável por estruturar e manter as estratégias e políticas de relacionamento da empresa com diferentes públicos de interesse, incluindo governos, órgãos reguladores e comunidades. Ele é Doutor em Ciências Políticas pela Universidade de Los Andes e mestre em jornalismo pela Universidade Alcalá de Henares, em Madri.
Mas por que só agora essa permissão? Segundo Wilches, o governo colombiano imaginava que as flores eram produtos com menor valor agregado do que extratos:” no entanto, isso se provou incorreto”.
O diretor da Clever Leaves também falou sobre o mercado brasileiro. Julian Wilches acredita que o Brasil será um dos mercados mais importantes do mundo. Destacou que nosso país é conhecido mundialmente por ser exigente em termos de padrões de qualidade.
“Vemos um mercado que provavelmente será facilmente uma indústria multibilionária dentro de três a cinco anos.”
O executivo também projetou os próximos para a América do Sul. Afirmou que o continente tem todas as oportunidades para se tornar líder na produção, mas alertou: “é preciso investir em pesquisa científica, porque produzir todos nós podemos, mas a inovação estará em outro lugar”.
Confira abaixo a entrevista completa!
Por que exportar flores secas é mais vantajoso do que o produto acabado?
O mercado de flores de Cannabis desidratadas para uso medicinal é maior do que o mercado de extratos de cannabis. Portanto, abrir a possibilidade de explorar esse mercado é significativamente benéfico para as empresas de Cannabis. Mas, na Clever Leaves acreditamos que os pacientes estão em primeiro lugar e, com a flor, agora podemos oferecer aos pacientes um portfólio mais abrangente que permite que mais e mais pessoas necessitadas se beneficiem da Cannabis medicinal. Consequentemente, regulamentar a produção e distribuição de flores secas parece um bom caminho a seguir.
Por que a Colômbia permitia cultivo e processo industrial, mas só agora liberou a exportação de flores?
A hipótese original era de que a flor é um produto com menos valor agregado do que os extratos. No entanto, isso se provou incorreto. A produção de flores de qualidade farmacêutica obedecendo aos padrões EUGMP (Boas Práticas de Fabricação na Europa) é complexa e requer um investimento significativo e sistemas de qualidade robustos.
Pode-se argumentar que produzir flores é mais complexo do que extratos. Além disso, o decreto assinado recentemente na Colômbia que altera a regulamentação vai se adequar à nova realidade do mercado; mais de 50 – 60% do mercado de Cannabis medicinal está na forma de flor em nível global. Isso mostra que o governo colombiano está comprometido com esta indústria e com os pacientes, promulgando regulamentos que garantam o acesso a produtos de alta qualidade. Este é o resultado de uma colaboração de 2 anos e meio entre as empresas e o governo e temos a convicção de que é uma grande conquista.
Na entrevista com o Kyle Detwiler, eu perguntei se havia o interesse da Clever Leaves em investir também no cânhamo industrial, e ele disse que naquele momento não. Com a nova regulamentação colombiana, a Clever vai investir nesse mercado agora, além de bebidas e alimentação?
O foco continua sendo a Cannabis medicinal. Na verdade, anunciamos recentemente o Project Change Lives, uma iniciativa de pesquisa com foco nos EUA, por meio da qual a Empresa se comprometeu a contribuir com o valor de varejo de até US $ 25 milhões em produtos de Cannabis medicinal para qualquer organização dos EUA qualificada para ajudar no avanço da pesquisa científica sobre os benefícios médicos potenciais dos canabinóides.
Também temos parcerias com marcas de consumo, mas somos uma empresa b2b com foco no fornecimento de Cannabis farmacêutica de boa qualidade para que as empresas possam produzir os produtos finais para o mercado
Aqui no Brasil, o plantio ainda é proibido, mas o Congresso deve votar no segundo semestre um projeto de lei que legaliza o cultivo para fins medicinais e industriais. Como a Clever Leaves enxerga o mercado brasileiro?
Acreditamos que o Brasil será um dos mercados mais importantes do mundo. Vemos um mercado que provavelmente será facilmente uma indústria multibilionária dentro de 3 a 5 anos.
Os requisitos em termos de qualidade de qualquer coisa que será entregue a um paciente no Brasil são muito rígidos, e somos uma das sete empresas no mundo que fabrica produtos de Cannabis com o grau de qualidade exigido na União Europeia.
O Brasil é amplamente conhecido mundialmente por ser um país exigente em termos de padrões de qualidade e temos um produto adequado às regulamentações brasileiras. Acreditamos que o Brasil fez da maneira certa, dando primeiro acesso aos pacientes e depois agora discutindo o desenvolvimento de uma indústria, mas os pacientes foram primeiro, acho que é a abordagem certa.
Como você enxerga o mercado da Cannabis daqui a 5 anos na América do Sul?
Muitos países estão realizando ações recentemente na região, e acredito que também sirva de exemplo para outros países da América Latina, acelerando o processo de legalização da Cannabis medicinal nesta região.
Acredito que a América do Sul tem todas as oportunidades para se tornar líder, mas é preciso investir em pesquisa científica, porque produzir todos nós podemos, mas a inovação estará em outro lugar.
Precisamos atrair investimentos para pesquisa e desenvolvimento para nos tornarmos um centro de inovação como Israel e a República Tcheca estão fazendo.