A menstruação de Cinthia Barki sempre era precedida por dores. Não as tradicionais cólicas, mas uma enxaqueca terrível. Aos 35 anos, a dor era intensa, mas logo passava e, uma vez ao mês só, foi deixando para lá.
“Chegando aos 38 anos, a dor passou a acontecer sempre. Se eu andava muito, ou tivesse um barulho, um cheiro. Às vezes, só de sair na rua de óculos escuro ou subir uma ladeira, a dor já aparecia”, conta. “Depois dos 40 começou a piorar. já estava apelando muito para novalgina. Quando eu fiz 50 começou a tragédia.”
As dores da menopausa
Com a chegada da menopausa, em um período de sua vida em que passava horas em frente ao computador para escrever sua tese de mestrado em filosofia, as dores se tornaram tão intensas e frequentes que era impossível ignorá-las.
“Até falar no telefone me dava dor de cabeça. Uma dor que me deixava sem condição de fazer outras coisas. Tinha vez que, antes, vinha a dor de cabeça e não tomava nada. Eu sabia que depois de dois dias ela desaparecia. Mas, nesse momento, eu comecei a ter a dor e ela não desaparecia.”
Os remédios tradicionais para dor de cabeça faziam pouco efeito nela. E, pior, quando tomava muito, acabavam surgindo de uma vez, ainda mais intensa. No que chama de “efeito rebote”. “Não pode usar mais de duas vezes por semana que o negócio volta com mais força. Comecei a procurar tratamentos alternativos. Homeopatia, acupuntura, fitoterapia, nada adiantava.”
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Enxaqueca
“Aí começou a viagem pelos neurologistas especialistas em enxaqueca. Eu tomei tudo que era remédio. Ficavam experimentando. Tem umas cinco substâncias que passam para você experimentar. Nada muito específico para enxaqueca. Remédio para pressão, anticonvulsivante, e nada”, lembra. “Isso durou 13 anos.”
Ninguém nunca descobriu a real causa de suas enxaquecas. “Nas viagens de lazer que fazia, minhas dores melhoravam 80%. Não sei se ficava tão encantada, tanto prazer, que paravam. Tinha duas em 20 dias, algo fora do meu padrão”, conta.
“Eu fazendo psicanálise e ela pensava que era psicológico. É um pouco, mas o estresse é um gatilho, não uma causa. Estressada, vinha a crise, mas não é todo mundo que fica estressado e tem dor de cabeça.”
Enquanto isso, sua qualidade de vida deteriorava, assim como, segundo avalia, sua memória e capacidade intelectual. “Atrapalhava tudo. Abandonei um doutorado”, explica. “Eu começava a estudar, vinha uma crise, ficava três dias sem poder pegar em nada. Quando voltava, tinha esquecido o que estava fazendo.”
Até seus amigos acabaram se afastando. “Eu tinha medo de combinar de ir ao cinema no sábado, por exemplo. Se estivesse na quinta, não sabia se ia ter enxaqueca. Os amigos chamavam, e eu nunca podia. Com o tempo, acabaram sumindo.”
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Cannabis para dor
A mudança que precisava em sua vida chegou por linhas tortas. “Minha última neurologista, um belo dia chegou e disse que não havia mais nada que pudesse fazer por mim. Ela desistiu de mim. Simplesmente”, diz. “Foi quando me lembrei que tinha ido no jornal um artigo de algum professor falando da experiência de Cannabis para dor. Aí comecei a busca.”
Isso foi em 2015, e seis anos atrás não era fácil como hoje para encontrar um médico prescritor de Cannabis medicinal. “Levei muito tempo até conseguir achar um médico. Eu sabia que existiam grupos, mas nada. Entrei em contato com vereadores, pedindo socorro, preciso saber quem é o médico. Pessoas envolvidas, mas ninguém me falava.”
“Fui em uma Marcha da Maconha, procurar pessoas, desesperada, e nada. Muitas moças, com crianças com epilepsia, mas ninguém falava onde encontrar um médico. Eu consegui encontrar na internet uma moça de Belo Horizonte. Foi o anjo da minha vida. Ela estava na associação ama+me. Juliana Paolinelli foi uma santa.”
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Um médico prescritor de Cannabis
Após tanta busca, descobriu que havia um especialista em dor que atendia ali mesmo em sua cidade, no Rio de Janeiro: o médico Ricardo Ferreira. “Demorou uns dois meses para me adaptar. Quando começou a funcionar, minhas dores de cabeça foram espaçando, e isso salvou a minha vida.”
Com mais de cinco anos fazendo o tratamento com Cannabis medicinal, se sente curada. “Agora eu tô bem. Fiquei mais relaxada. Eu posso combinar de sair com as amigas. Quando vem a dor, é fraquinha e passa logo.”
Aos poucos também se livrou de quase todos os demais medicamentos. “Os triptanos têm um efeito colateral muito ruim. Ficava tonta, parecia que não acordava direito. Enjoo. Tomava anti-inflamatório e ferrei meu estômago. Não pode ficar tomando assim.”
“Estou tomando um pouquinho de THC. Fiquei muitos anos tendo que tomar rivotril para dormir, e resolvi fazer o teste. Após 20 anos usando, consegui parar. Hoje só uso rivotril em caso de emergência”, continuou Baki, hoje com 68 anos. “Eu não estava vivendo. Era uma vida muito limitada, e tive uma melhora de uns 90%.”