O médico Fausto Arantes dos Reis conta como vem mudando a vida de seus pacientes, e a sua própria, desde que conheceu a Cannabis medicinal
Não faltam especializações e estudo na carreira do neurologista Fausto Reis. Formação em eletroencefalografia, mestrado em neurologia infantil, especialização em psiquiatria e medicina no sono ao longo de 35 anos de carreira. No entanto, não faz dois que começou a conhecer melhor sobre um sistema diretamente relacionado a toda sua prática médica: o endocanabinoide.
“Atendo muitas pessoas com quadro de dor localizada, neuropática, fibromialgia, dor miofascial, e me levou a interessar um pouco mais especificamente pela dor. Foi quando assisti uma palestra, uns dois anos atrás, sobre o CBD e o sistema endocanabinoide como fundamental para o nosso corpo”, conta o médico. “Aquilo me chamou atenção, pois eu não sabia nada do sistema endocanabinoide e comecei a me interessar, ler mais.”
CBD para dor neuropática
A empolgação foi tamanha, que decidiu fazer um doutorado sobre tratamento com CBD em dor neuropática. “Comecei a fazer o levantamento bibliográfico para fundamentar o projeto de pesquisa, e me impressionou a enormidade de artigos em revistas científicas respeitadas”, conta. “Fiquei impressionado com a quantidade de artigos nos últimos anos sobre a eficácia do CBD em várias patologias.”
Tanto que seu plano mudou. Desistiu do doutorado e quis seguir logo para a prática, e após uma formação em sistema endocanabinoide oferecida pela Tegra Pharma, começou a prescrição. “Aquilo me motivou muito. Inicialmente comecei em pacientes já refratários aos protocolos atuais. Pacientes com Alzheimer e Parkinson mais graves.”
Experiência prática com canabidiol
“Comecei a ver uma resposta muito interessante. Por mais comprometido que estivesse o sistema cognitivo, a memória linguística, o CBD ainda conseguia modular algum afeto”, revelou. “Como se fosse uma criança que estivesse perdida no centro e o CBD fosse um direcionamento emocional. Uma modulação afetiva que muda completamente a interação do paciente com os familiares, cuidadores. Isso foi me chamando a atenção, me estimulando.”
Quando uma de suas pacientes, uma senhora com quadro grave de Parkinson, já restrita ao leito e que há muito não falava, sentou-se na cama e pediu café já no primeiro mês de tratamento, Fausto Reis decidiu que era o momento de testar o tratamento com Cannabis medicinal em um outro paciente, com um quadro mais leve: “Aí eu comecei a tomar o CBD”.
Médico e paciente
Há mais de três anos o médico havia sido diagnosticado com neuropatia de fibras finas – danos às fibras do sistema nervoso periférico que detectam dor, calor e coceira -. “Sentia uma queimação na planta dos pés que me roubava toda a atenção. Estava no consultório atendendo, e minha vontade era tirar o sapato e ficar com os pés no chão.”
Seu quadro, controlado com medicamentos, acabou se desenvolvendo também em uma fibromialgia. “Foi aí que passei a entender os pacientes com fibromialgia. Uma dor que parece a dor da academia. Quando faz muita atividade depois de um tempo e no outro dia fica todo dolorido. Mesmo com a medicação, eu ainda sentia crises de fibromialgia muito incapacitantes”, lembra.
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Os medicamentos o ajudavam a seguir em frente, mas não eram suficientes. “Vinha fazendo um protocolo regular. Me sentia feliz de ter melhorado, mas não estava curado. Mantinha minha rotina, mas a um custo muito grande no meu humor. Com isso, acabei desenvolvendo depressão.”
Tratamento com Cannabis
Com a Cannabis, tudo mudou. Já no primeiro mês de tratamento estava dormindo melhor, mais bem humorado, com motivação para trabalhar e viver. “É muito interessante porque o CBD modula vários sistemas ao mesmo tempo. É o maestro de todos os sistemas. Me sentia tão bem que até comprei um barco. Muito legal.”
No segundo mês de tratamento, porém, começou a se sentir mal. “Chegava na hora do almoço, último paciente, começava a sentir como se fosse apagando a luz.”
Além das dores, o neurologista também convivia com diabetes, mas bem controlada pelos medicamentos tradicionais. Ficou surpreso quando viu que sua glicose estava baixa. Precisou reduzir a dose dos medicamentos para a diabetes, assim como para a neuropatia. “Fui melhorando, melhorando, e parei de tomar pregabalina. Isso foi uma vitória.”
“A pregabalina diminui a ansiedade, mas a concentração, cognição, pode ser afetada. Às vezes de uma forma que não percebe, porque entre o alívio de uma dor crônica e a diminuição relativa da cognição, compensa”, explicou. “Aí quando você usa o CBD vai tendo uma experiência global da vida. Ainda que seja aos 60 anos, com as particularidades que o tempo nos agregam, é muito interessante começar a abrir a cortina da vida.”
Benefícios do CBD
Uma transformação também em sua prática clínica. “É muito gostoso acompanhar o tratamento com CBD. “Os protocolos que a gente tem, baseado em evidências farmacológicas produzidas por grandes laboratórios, infelizmente não nos dão esse prazer”, diz.
“É gostoso quando a gente consegue tratar a depressão, mas a gente sente que ele nunca vai ficar livre daquele remédio. Eu não sei se o paciente vai ficar livre do CBD um dia, mas eu acho que é muito melhor um medicamento que melhore de uma forma global que aliviar sintomas, como a gente faz na medicina clássica.”
Na luta contra o preconceito
A experiência positiva com os pacientes, e com si mesmo, motivou o médico a tornar público seu caso. “Uma coisa que médico não gosta muito de fazer. Como se o médico não adoecesse nunca. Admitir nossos problemas pode fazer perceber que a gente não é médico o suficiente para nos curar, então a gente prefere criar uma redoma”, revelou.
“Eu decidi expor minha janela de vidro para que mais colegas despertem a atenção para uma coisa que já está cientificamente comprovada, que é o sistema endocanabinoide. Que a gente consiga diminuir o preconceito, principalmente dos médicos brasileiros.”
Segundo o neurologista, a postura preconceituosa de parte da classe médica em relação a uma descoberta “importantíssima, que ainda vai levar um prêmio Nobel”, faz com que percam o compasso da história mundial.
“Impacto de fatores estressores ambientais podem tornar o sistema endocanabinoide insuficiente para a modulação do organismo”, detalha. “O CBD vai suprir essa demanda. Modula de uma maneira harmoniosa. Promove um equilíbrio. É uma ferramenta terapêutica fantástica.”
Apesar de ainda não serem detalhadamente desconhecidos todos os mecanismos de ação dos fitocanabinoides em cada patologia, não existem dúvidas, para o médico ou a ciência, de sua eficácia. “O que é certo é que desde a primeira dose, mexe. É tão bacana. Mexe alguma coisa e a medida vai estimulando, vai modulando, vai produzindo uma resposta”, conclui.
“É muito bacana, diante do CBD, ter uma postura holística, quase quântica mesmo. São pulsos de energia que vão modular sistemas. Todas as células têm receptores endocanabinoides. A gente não pode achar que o corpo levou milênios para criar aquela proteína, para criar aquele receptor, simplesmente para uma pessoa fumar um baseadinho de vez em quando.”