Eloize era uma criança ativa e estudiosa, e nada indicava algum motivo de preocupação. Até um dia, aos nove anos, tudo mudou. Estava sentada no sofá, comendo uma bolacha, quando de repente ficou quieta. A família estava com visita em casa, e pensaram que a menina queria ficar na dela e deixaram para lá. Até a hora da despedida: Eloize não respondeu ao tchau, nem ao chacoalhão posterior de sua irmã.
Somente no hospital a condição da jovem ficou mais clara, em um ataque convulsivo. Deixou o hospital 12 dias depois, com o diagnóstico de epilepsia.
Tratamentos convencionais para epilepsia
Começou então a jornada em busca de tratamento. Na primeira tentativa, com carbamazepina, teve uma reação alérgica fazendo surgir bolhas em todo o corpo e pouco efeito positivo.
Com depakene e gardenal, somou novos sintomas à sua condição. “Ficou um bom tempo sem crises, mas se tornou muito agressiva. Se jogava no chão, mordia as pessoas. Não conseguia responder direito quando falavam com ela e sentia muita dor de cabeça”, lembra sua irmã Pamila Giacopini.
Logo as crises voltaram, e os médicos aumentaram ainda mais a dose dos medicamentos. “Mesmo com todos esses remédios, eram de 3 a 4 crises por dia”, continuou Pamila. “Os médicos começaram a investigar, as crises não cessavam as crises nem por um dia. Encontraram um nódulo na cabeça dela, que poderia ser a origem das crises, e decidiram operar.”
Cirurgia e remédios
A cirurgia, realizada dia 12 de fevereiro, foi um sucesso. Já os resultados, nem tanto. “Assim que veio para casa, em uma semana, já começou a ter crises novamente”, contou Pamila. “Só não eram iguais às de antes. Apenas babava e virava os olhos. Começou a ter de 5 a 6 crises por dia. Em um dia ela teve 15 crises. Chegou a cair e rolar sem a gente nem ver.”
Aumentaram ainda mais os medicamentos, e nada de Eloize melhorar. Começou a apresentar incontinência urinária junto às crises, o que a levou às fraldas. “Os médicos falaram que teria que operar novamente Um novo exame disse que todos os focos de crises tinham retornado como se nem tivessem feito a primeira cirurgia.”
Epilepsia e Cannabis medicinal
Até que Pamila, que é enfermeira, começou a trabalhar no mesmo hospital que o médico Renan Abdalla. “Ele me contou sobre a Cannabis. Minha mãe tinha um preconceito, porque não sabia do óleo. O dr. Renan fez chamada de vídeo, e explicou tudo para ela”, conta Pamila.“Ele deu um óleo para experimentarmos. Três gotas de manhã, três à noite, e ela ficou duas semanas sem crise, e assim começamos o tratamento.”
Após anos com convulsões frequentes, o início do tratamento fez Eloize ficar por dois meses sem crises. O benefício foi tão evidente, que alguns dias após o uso de Cannabis, gravou um vídeo junto a sua mãe, Silvana Giacopini, em que celebrava a evolução. “Dormi dois dias sem fralda, e me sinto muito melhor. Eu quero tirar os remédios da minha vida. É muito remédio.”
Qualidade de vida com Cannabis
Seu pedido foi atendido. Hoje, dos 15 comprimidos que tomava diariamente, reduziu para 2,5 comprimidos, tampouco consideram a hipótese de submeter a jovem a mais uma cirurgia. Suas crises se tornaram muito menos frequentes, com uma ou outra ao longo do mês, e menos intensas.
Uma transformação na qualidade de vida. Não só da Eloize, aos 12 anos, mas de toda família. “Minha mãe tinha largado a vida inteira dela. Família, casa, tudo, só para cuidar da minha irmã. Ela lidava muito mal com as crises, ficava muito nervosa. Acabou quase entrando em depressão”, diz Pamila. “
“Foi uma fase muito difícil. Imagina que você faz de tudo, tenta um monte de remédio, cirurgia, e nada dá certo”, continuou. “Agora, minha mãe continua em casa, mas consegue sair. Antes não fazia nada com medo de acontecer alguma coisa. Hoje passeia normal pela rua com a gente.”