Em seu primeiro ano de vida, o Cannabis & Saúde trouxe diariamente as últimas novidades sobre a Cannabis medicinal, com todos os avanços e descobertas da ciência. No entanto, são as histórias reais, de pacientes que tiveram que percorrer longas jornadas até encontrar alívio no tratamento canabinoide, nossa principal ferramenta para cumprir a missão de levar esperança aos pacientes.
Foram mais de 30 relatos, de pacientes ou familiares, que inspiraram (e ainda inspiram) pessoas a vencer barreiras e acreditar na medicina canábica. Para comemorar nosso primeiro aniversário, celebrado nesta quarta-feira, 10, lembramos algumas das histórias de pacientes mais marcantes.
Samuca
O que era uma vida saudável, se transformou quando a mãe de Samuel desapareceu. O menino ficou agressivo e frequentemente batia a cabeça. No médico, sua avó, Cleusa Ladário, descobriu que não era só tristeza. Estava com encefalite viral, causado pela herpes, que fez com que começasse a ter convulsões, até 60 por dia, e um quadro de autismo.
Até que começou a tomar o óleo da Cannabis. “Hoje é um a cada mês. Eram crises terríveis de autismo, onde ele quebrava tudo. Hoje ele é uma criança super sociável. Cuida das plantinhas. Ele não segurava nada com as mãos, não andava, usava fraldas, comia por sonda. Agora ele pinta quadros!”, contou sua avó.
Gabrielle
O relato do pai de Gabriele, o coronel da Polícia Militar Israel Moura, ficou por meses entre as preferidas dos leitores do Cannabis & Saúde. Por 20 anos combater o tráfico de maconha era parte de sua rotina. Até que, em 2012, nasceu Gabrielle, um dos primeiros casos de microcefalia causado pelo zika vírus.
Aos seis meses a menina começou a ter convulsões, dando início a busca por tratamento. Encontraram no óleo da Cannabis. “Passei 20 anos erradicando a maconha; hoje ela salva minha filha”, afirmou o coronel. “Tive que me render à cura”.
Christopher
Diagnosticado com transtorno do espectro autista, Christopher passou quase toda infância apresentando episódios de agressividade, não falava nem interagia com outras pessoas. Sua mãe, Deusamar Ferreira, chama de veneno o tratamento, com Risperidona, que o menino usava, por seus efeitos colaterais.
Depois que o menino começou com a Cannabis, passou a apresentar mudanças significativas: “começou a olhar a gente nos olhos, a obedecer, parou o choro, porque ele chorava da hora que acordava a hora de dormir”, conta Deusamar.
“Eu coloquei as cinco gotinhas na língua dele, e aí ele chegou pra mim, olhou nos meus olhos e disse: ‘mamãe, eu te amo’. Eu parei tudo que estava fazendo e só chorei, me emocionei demais. Foi a primeira vez que ele falou que me amava”.
Valentina
Diagnosticada com síndrome de down, Valentina apresentava um bom desenvolvimento quando, aos três anos, começou a apresentar problemas gastrointestinais. As seguidas idas ao hospital, foram acompanhadas de mudanças comportamentais. Vivia agitada, tinha crises sensoriais, chegando à auto-agressão.
A jornada para descobrir o que estava acontecendo com Valentina, diagnosticada também com autismo, foi seguida pela busca de tratamento. Chegar ao óleo de CBD não foi o fim da história, pois criança só começou apresentar melhora quando iniciou o tratamento com o óleo full spectrum.
“Dei uma gota e, de um dia para o outro, ela ficou super bem. Pensei ‘nossa! Minha filha está de volta!’”, contou a mãe, Cristine Palacios. “O intestino da minha filha hoje funciona super bem, mas a primeira coisa que percebi foi o cognitivo. Ela ficou mais esperta, começou a apresentar memórias, querer se comunicar mais.”
Júnior e Djanira
Aos 40 e poucos anos, Júnior estava desnutrido e diabético, definhando diante dos olhos da mãe. Gritava, não dormia e exigia a atenção de Marina de Carvalho Rodrigues 24 horas por dia. Já estava dez anos além da expectativa de vida para pessoas que, como ele, tem autismo severo.
Sem muitos quadros clínicos semelhantes, havia pouco o que fazer além de tentar controlar as convulsões com medicamentos alopáticos, e assistir o filho definhar. Pela internet, Marina foi sugerida a experimentar o tratamento com Cannabis.
Com apenas três gotas de CBD por dia, boa alimentação e desmame quase total dos remédios alopáticos, Júnior voltou a comer – o que aos poucos volta a fazer sozinho-, dorme a noite toda e obedece Marina, que também precisa cuidar de sua mãe, dona Djanira.
Aos 101 anos, a avó de Júnior passava o dia apática, deitada em cama hospitalar. Testando um pouco do óleo do neto, e pouco tempo depois, voltou a falar, reconheceu o quarto, conversou com a filha. Estava lúcida como 20 anos atrás, resultado que impressionou os próprios médicos.
Padre Ticão
Padre Ticão não foi paciente, mas impossível fazer uma retrospectiva sobre Cannabis medicinal sem falar de Antonio Luiz Marchioni, falecido no dia 1° de janeiro – e da oportunidade que tivemos de entrevistá-lo em 2020.
Em seus 42 anos de sacerdócio, 38 anos a frente da Paróquia de São Francisco de Assis, do bairro Ermelino Matarazzo, padre Ticão sempre esteve atento às demandas sociais da comunidade em que estava inserido, na zona leste da cidade de São Paulo. Sendo sua principal preocupação o acesso à saúde.
Acreditando que as plantas são a “farmácia de Deus”, passou a organizar, junto à Universidade Federal de São Paulo, um curso voltado ao uso medicinal da Cannabis. Foram três edições, e cerca de três mil formados.
“Buscamos mostrar que a Cannabis é a medicina do presente e do futuro”, contou em entrevista ao Cannabis & Saúde em meados de 2020. “Listamos umas 200 situações de saúde em que ela pode ajudar. As pessoas vêm aqui, porque ouviram o testemunho positivo de alguém, porque ainda existe um preconceito enorme. Nós mostramos aqui, e é pela prática, que as pessoas estão vindo e se sentindo melhor.”