Ainda nos primeiros anos como neurocirurgião, Bruno Zappa se deparou com uma triste realidade da profissão. Especialista em procedimentos pouco invasivos no tratamento de dores intensas, percebeu as limitações das abordagens médicas usadas tradicionalmente
“Casos graves de epilepsia e alguns tipos de dor crônica, que tratávamos até com cirurgias de alta complexidade, nem sempre resultavam em melhora aos pacientes”, revela Zappa.
Preconceito com Cannabis
O neurocirurgião tampouco acreditava na eficácia de possíveis métodos alternativos de tratamento, como a Cannabis. “Assumo que tinha preconceito. Achava que era charlatanismo. Algo mais empírico, não comprovado cientificamente.”
Formado em medicina na Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ), e com residência na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP), buscava qualidade de vida. Justamente por isso, mudou-se, há quatro anos, para Florianópolis (SC). Lá encontrou muito mais do que esperava.
Começou a trabalhar na mesma clínica que a médica Patricia Montagner, neurocirurgiã, e viu que alguns pacientes se beneficiavam mais com a Cannabis do que com os tratamentos convencionais.
“Você vê os pacientes falando: ‘doutor, melhorei muito, salvou minha vida.’ Vê um paciente, dois, três. Começa a pensar que realmente tem uma base que funciona. Não é algo que dá para deixar para lá e fingir que não existe.”
A virada da Cannabis
Zappa via de perto os benefícios da Cannabis medicinal. “O estopim foi ver a resposta dos pacientes. Dezenas de pacientes melhorando”, lembra. “Crianças com epilepsias incontroláveis, que iam fazer cirurgias de altíssima complexidade, altamente debilitantes, começavam a tomar o óleo, e não precisavam mais fazer cirurgia.”
“Comecei a estudar, ver a história da substância, os motivos pelos quais ela foi marginalizada, os interesses por trás disso. Vi que hoje existem milhares de estudos sobre o tema, aí perde aquela barreira.”
Pacientes tratados com Cannabis
Há 3,5 anos, seus pacientes também colhem os benefícios do tratamento com a Cannabis medicinal. “A vantagem maior é de não ser uma química. Não é um medicamento alopático”, afirma. “Muitas vezes o paciente usa várias drogas tradicionais que causam, de forma isolada ou combinada, inúmeros efeitos colaterais e que não resolvem o problema.”
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“Já tenho vários pacientes usando só o óleo”, continuou. “Pessoas que já sofriam de hepatite medicamentosa, do montão de medicamentos que tomavam. Outras estavam desenganadas, tinham feito cirurgias grandes e não melhoravam, o óleo trouxe benefícios.”
No entanto, o médico Bruno Zappa explica que a Cannabis é somente mais uma opção dentro de seu arsenal terapêutico. Seu trabalho é oferecer aos pacientes o maior número de opções e, de forma individualizada, determinar o melhor procedimento.
“Alguns pacientes precisam mesmo de cirurgia, outros não tem resposta com o óleo, ou efeitos contrários ao que deseja, e não se sabe bem porquê. Pacientes que, por questões pessoais, preferem o tratamento convencional”, conta.
“Acho a Cannabis que veio para melhorar a quantidade de opções que tem para oferecer. Muitas coisas que antigamente o discurso era de que o paciente ia ter que conviver com a condição, pois nenhum tratamento deu certo, agora tem outra opção.”
Prós e contras da Cannabis
Quando coloca na balança os prós e os contras, a Cannabis medicinal leva vantagem sobre o tratamento tradicional. “Para muitas patologias, não é errado apostar na Cannabis como primeira opção de tratamento. Mas existem efeitos adversos. Alguns pacientes desenvolvem quadros confusionais, sonolência, mas é bem menos que os medicamentos tradicionais.”
“Principalmente para dor crônica, a maioria dos medicamentos é psicoativo. Os efeitos colaterais, como dependência, são bem mais evidentes do que com a Cannabis”, explica o neurocirurgião. “O óleo causa efeito adverso em um ou outro. Com a pregabalina, por exemplo, quase todo mundo vai passar mal, ter sonolência.”
Quebrando o preconceito
Seu objetivo é que cada vez mais pessoas, tanto médicos como pacientes, saibam que existe uma opção de tratamento, com uma longa lista de pesquisas e testes clínicos, capaz de entregar esperança para pacientes já desenganados.
“Eu percebo que a resistência está diminuindo, mas existe. Em Florianópolis, a gente sofre com algum tipo de represália de outros colegas, mas acredito que é uma resistência muito primitiva, de quem não se dá ao trabalho de pesquisar”, defende o médico, que continua:
“É uma modalidade de tratamento que tem beneficiado muita gente. Os médicos precisam ler mais sobre o assunto, ter um contato, para tirar suas próprias conclusões. As pessoas que têm resistência, vendo na prática, vão se sensibilizar e perceber que não dá para fechar os olhos para a Cannabis.”