Desde 2015, após uma iniciativa da UNESCO e da ONU, comemora-se em 11 de fevereiro o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Por isso, o portal Cannabis & Saúde aproveita a data para homenagear quatro cientistas que fazem a história da Medicina Canabinoide se desenvolver no país.
As mulheres foram excluídas da educação formal por muitas décadas, sob justificativas pseudobiológicas, relacionando o corpo feminino a menor capacidade intelectual e cognitiva. Até hoje, a maior carga de serviços domésticos e cuidados familiares deixa as mulheres em desvantagem no meio acadêmico, gerando disparidades não só no desenvolvimento de estudos e publicação de artigos, mas também na representatividade entre pesquisadores, a qual é crucial para uma discussão mais complexa dos assuntos e diversidade dos temas escolhidos para estudo.
Contudo, este cenário está mudando, pelo menos no Brasil. Os últimos dados do IBGE que apontam que mesmo com as mulheres dominando o ambiente de graduação e pós graduação no Brasil e assinado 72% dos artigos produzidos no País. No setor de Cannabis, as mulheres tem mais participação do que em outras áreas.
Apesar da falta de dados por esta indústria ainda ser emergente no Brasil, podemos usar como referência o cenário de países onde a maconha medicinal é legalizada. De acordo com a pesquisa da revista Marijuana Business Daily, feita em 2019, as mulheres ocupavam 36,8% dos empregos de nível sênior nas empresas do ramo canábico dos Estados Unidos. Quando comparada à média nacional de participação das mulheres nesses cargos no restante das indústrias, que é de 21%.
Por isso, é importante destacar a atuação destas profissionais. O portal Cannabis & Saúde lista agora quatro cientistas envolvidas na pesquisa com Cannabis no Brasil.
Virgínia Carvalho
A farmacêutica Dra Virgínia Martins Carvalho é coordenadora do Projeto de Extenção FarmaCannabis da UFRJ. O projeto oferece assistência farmacêutica a pacientes em tratamento com Cannabis, em especial aqueles autorizados pela Justiça a plantar e produzir medicamentos.
A iniciativa busca determinar com precisão as concentrações de canabinoides em extratos artesanais e importados; dar suporte farmacêutico para o cultivo e a preparação de extratos medicinais de Cannabis, além de produzir material informativo e de educação e novos conhecimentos sobre a terapia com Cannabis.
Virgínia é professora da Faculdade de Farmácia da UFRJ, com pós-doutorado em Toxicologia Experimental pela USP. Tem experiência em análises químico-toxicológicas, análises neuroquímicas e estudos de neurodesenvolvimento em modelo de ratos. Além de. coordenar o FarmaCannabis,ela está à frente de outros projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico voltados ao desenvolvimento e controle farmacêutico de derivados de Cannabis.
Luzia Sampaio
A farmacêutica Luzia Sampaio é uma das primeiras pesquisadoras na área de Cannabis no Brasil, com os primeiros trabalhos publicados há mais de uma década. Atualmente é coordenadora de ciências médicas na empresa HempMeds, mas continua seus trabalhos científicos com canabinoides na UFRJ.
Luzia é doutora em Ciências Biológicas e pós-doutora pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho. Ela está a frente de um estudo pioneiro que descobriu em 2015 que o sistema endocanabinoide atua sobre os rins, um achado que abre a possibilidade de desenvolver remédios contra a hipertensão e curar lesões renais sem tratamento além da diálise e transplante de rins.
Atualmente desenvolve o pós-doutorado no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (bolsista FAPERJ nota 10) com os temas: “Estudo translacional da administração oral de óleo de Cannabis sp. em modelo animal de autismo: o papel do sistema endocanabinoide na resposta ao extrato enriquecido de canabidiol sob o sistema nervoso central” e “Ensaio translacional do efeito do extrato de Cannabis sp rico em canabidiol sobre o paradigma da epilepsia refratária”, no Laboratório de Neuroquímica
Também possui pesquisas sobre o extrato de canabidiol no tratamento de doenças neurológicas. Os resultados dos estudos, feitos com ratos mantidos em tratamento por duas semanas, provaram que não há comprometimento no ganho de peso corporal ou no comportamento alimentar de quem usa a substância, o que é uma preocupação da comunidade científica. Outro ponto que é importante é sobre o nível de aprendizado e perda de memória de curto prazo: os testes também mostram que não há alteração.
Ela coordena ainda projetos de pesquisas sobre o papel do sistema endocanabinoide na resposta ao CBD e THC em diferentes regiões do Sistema Nervoso Central e Periférico.
Andrea Gallassi
A professora da UnB Dra. Andrea Gallassi é uma das maiores referências em pesquisa com dependência no Brasil. Ela é doutora pela Faculdade de Medicina da USP e pós-doutora pelo Centro de Dependência Química e Saúde Mental da Universidade de Toronto, no Canadá. A cientista foi destaque na semana passada no portal Cannabis & Saúde pelo fato do Ministério da Saúde ter negado a continuidade de sua pesquisa inovadora sobre o uso do canabidiol no controle da dependência química.
A primeira fase foi financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF). Entre os resultados iniciais do estudo, estavam o de que o CBD se mostrou uma terapia promissora no tratamento da dependência de cocaína e promoveu a redução na auto administração da droga. Contudo, o Ministério da Saúde não aprovou a continuidade do estudo, após ter feito uma série de questionamentos, segundo a pesquisadora, “infundados”.
Gallassi tem mais de 20 artigos científicos publicados em revistas indexadas nacionais e internacionais, além de livros e capítulos de livros que versam sobre o tema álcool e outras drogas. Tem experiência na área de saúde mental e saúde pública, com ênfase em intervenção psicossocial para pessoas em uso problemático de álcool e outras drogas, uso terapêutico da cannabis sativa e políticas de álcool e outras drogas.
Jackeline Barbosa
A neurologista Jackeline Barbosa é diretora de assuntos médicos e científicos da Herbarium, referência no Brasil em fitoterápicos e que pretende entrar no setor de Cannabis nesse ano. Ela também é membro da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis e pesquisadora sênior da associação Canapse – Canabiologia, Pesquisa, Serviços e Ensino.
Jackeline Barbosa é doutora em Ciências Médicas, mestre em Neurologia. Possui especialidades em fitoterápicos, biotecnologia vegetal, programas de saúde pública e familiar, desenvolvimento clínico e operações, educação em saúde, estratégias farmacêuticas e biotecnologia. Também é coordenadora da Pós-graduação em Cannabis Medicinal da Inspirali/Anima em parceria com a OnixCann.
A cientista une o conhecimento acadêmico com o mundo corporativo. Jackeline tem experiência em empresas farmacêuticas, biotecnológicas e de saúde. Ela tem forte atuação na construção de redes de negócios no planejamento e desenvolvimento estratégico de diversas áreas terapêuticas.
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