A história da Cannabis medicinal no Brasil não é nova. Há quem diga que completamos 10 anos de narrativa, já que em 2014, a Justiça brasileira autorizou pela primeira vez a importação de um remédio à base da planta para uma família brasileira. O acontecimento, de fato, foi um marco. E a história da menina Anny Fisher, protagonista do documentário Ilegal, foi um gatilho para o começo de uma mudança de perspectiva.
Porém, muito antes dessa última década, aqui no Brasil, os médicos do século XIX já prescreviam Cannabis para tratar diferentes condições.
Primeiro registro do termo Cannabis associado ao medicinal na imprensa do Brasil data de 1846
Segundo o livro “A maconha no Brasil através da imprensa (1808-1932)”, do historiador Gustavo Maia, o primeiro registro do termo Cannabis associado ao medicinal no Brasil data de 1846. E foi o relato de um médico sobre a ação sedativa da planta.
A partir de então o disseminado uso terapêutico da Cannabis para fins medicinais se confirma em outras publicações de jornais do Brasil da época. Nestes registros chama a atenção a diversidade das formulações produzidas com fitocanabinoides. Eram óleos, extratos, pílulas e cigarros de Cannabis indica, que eram importados de uma farmacêutica francesa para o Brasil.
“Encontrei diversos registros da indicação do uso da Cannabis durante o século XIX para inúmeras patologias aqui no Brasil. Médicos que prescreviam e indicavam o uso da Cannabis neste período. Foi só a partir da virada do século XX que temos esse processo de demonização, de associação ao uso negativo da planta, muito pela perspectiva racista”, explica Maia.
O historiador é responsável pelo Cannabis Monitor, iniciativa que monitora notícias sobre Cannabis que estão circulando na esfera pública brasileira atualmente.
Revista Brazil-Médico: recorte entre 1905 e 1915
Durante 1905 e 1905 a Revista Brazil-Médico publicou pelo menos sete artigos médicos com indicação de Cannabis para diferentes condições. Entre elas, insônia.
Conforme a obra, foi partir de 1915 que começaram os primeiros estudos acadêmicos específicos sobre os efeitos da Cannabis.
Seção: Consultório médico nos jornais entre 1916 e 1930
Entre 1916 e 1930 alguns jornais brasileiros e revistas do Rio de Janeiro apresentavam uma seção intitulada “Consultório médico”. Neste espaço, o historiador também encontrou indicações de extratos da planta.
1932: ano em que a planta foi criminalizada na legislação federal
De acordo com Maia, foi a combinação “entre racismo, xenofobia, moralismo e preconceitos sociais e religiosos” que norteou o “paradigma proibicionista que se consolidou mundialmente na virada do século XIX para o XX e determinou a diretriz da política de drogas no planeta durante todo o século XX”.
Segundo Maia:
“Com a proibição efetiva, a partir de 1932, o cultivo, o consumo e os produtos farmacêuticos derivados da Cannabis passaram a ser condenados severamente, principalmente após a criação da Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes (CNFE), em 1936, sendo este o primeiro órgão estatal voltado para a fiscalização, desenvolvimento e coordenação de políticas públicas, campanhas repressivas, publicação de trabalhos científicos, organização de eventos, proposição de legislações e representação em convenções internacionais sobre o tema (CARVALHO, 2013). Sendo essa, segundo Carneiro (2019), uma peça fundamental no processo de centralização do arcabouço proibicionista durante o período getulista”.
A partir da criminalização da planta, começou-se a abordar o tema sob a ótica da repressão, perseguição e prisão de cultivadores, vendedores e consumidores.
Após 49 anos os estudos do professor Carlini, de 1981, foram um marco no cenário brasileiro da Cannabis medicinal
Os estudos do professor Elisaldo Luiz de Araújo Carlini, renomado pesquisador brasileiro na área de psicofarmacologia, foram e seguem sendo fundamentais para entender o impacto e os potenciais usos medicinais da Cannabis. Em 1981, Carlini e sua equipe publicaram um estudo pioneiro intitulado “Estudo Clínico e Farmacológico de Cannabis Sativa no Brasil”, que teve um impacto significativo na compreensão da planta e suas aplicações terapêuticas.
Neste estudo, Carlini investigou os efeitos da Cannabis em pacientes com epilepsia refratária, observando melhorias significativas na redução das crises epilépticas em muitos dos participantes. Além disso, ele também examinou os efeitos da planta em outras condições médicas, como glaucoma, asma e dor crônica.
Hoje o Brasil conta com pelo menos 430 mil pacientes de Cannabis medicinal. E este número só cresce
Os esforços de Carlini e outros pesquisadores brasileiros foram e têm sido cruciais para promover o debate e a pesquisa sobre a Cannabis medicinal no Brasil, ajudando a abrir caminho para mudanças na legislação e políticas de saúde relacionadas ao uso terapêutico da planta.
Afinal, a história da Cannabis medicinal no Brasil é marcada por uma interação complexa entre tradições culturais, políticas de drogas, movimentos sociais e avanços na pesquisa médica. A discussão sobre a legalização e o uso medicinal da planta continua sendo um tópico de grande interesse e debate na sociedade brasileira.
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Uso medicinal da Cannabis: 2024
Atualmente, a Cannabis está disponível para as pessoas fazerem uso medicinal. Com a orientação de um médico ou dentista, é possível fazer um tratamento com produtos derivados da planta de forma segura e dentro da legalidade.
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