Levantamento da Kaya Mind revela crescimento de 119% no número de autorização de importações pela Anvisa em 2022. Projeções indicam que até o primeiro semestre do ano que vem 200 mil brasileiros poderão importar produtos à base de Cannabis no Brasil
Projeções da empresa de dados Kaya Mind – empresa especializada em inteligência de mercado no segmento da Cannabis – indicam que até maio de 2023 mais de 200 mil brasileiros terão autorização para importar produtos à base de Cannabis no Brasil. O documento – emitido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – é exigido para a entrada dessas substâncias no país que também precisam vir acompanhadas de prescrição médica.
Segundo o levantamento da startup, até dezembro desse ano serão emitidas mais de 84 mil autorizações de importação. Os números espelham o crescimento da estatística já registrada entre janeiro e julho deste ano, quando foram concedidas 40.782 novas permissões. No acumulado do ano de 2022, a Anvisa registrará um aumento de 119% no número de pacientes que importam a Cannabis, para fins médicos, em relação ao mesmo período do ano anterior. É o que prevê a análise da empresa de dados.
A CEO da Kaya Mind, Maria Eugenia Riscala, explica que os números são confiáveis porque há dois anos a empresa vem acompanhando, de forma sistemática, o crescimento do mercado e o aumento no número de pacientes e médicos prescritores. “A Kaya Mind possui uma parceria com a Anvisa para conseguir o número atualizado de novos pacientes aptos a importar produtos de Cannabis mês a mês, também utilizamos bastante a Lei de Acesso à Informação Pública (LAI) para gerar relatórios de inteligência. Então, se trata de uma projeção fiel. Até maio do ano que vem serão 200 mil pacientes com autorização para importar produtos à base de Cannabis no Brasil”, revela a executiva.
Para buscar um número mais perto da realidade foram observados critérios como constância e sazonalidade. “Por exemplo: entre dezembro e janeiro, que são meses de férias, o número de autorizações concedidas cai. Se o remédio não estiver no rol de produtos previamente cadastrados na plataforma da Anvisa, uma autorização de importação pode demorar até dois meses para sair. Então, tudo isso foi levado em consideração na nossa projeção”, explica.
O crescimento do mercado brasileiro vai de encontro às tendências mundiais. De acordo com estudo realizado pela empresa de pesquisa e consultoria Grand View Research, o mercado global de CBD (canabidiol) vai atingir 22 bilhões de dólares até 2030. Os analistas esperam um crescimento anual de cerca de 16% ao ano entre 2022 e 2030 para atingir essa marca. Aqui Riscala observa um crescimento constante, entretanto mais tímido:
“Ainda sentimos uma insegurança processual. Observamos que muitas empresas têm o mesmo fornecedor, vendem o mesmo produto, entretanto, algumas conseguem autorização para vender em farmácia e outras, não. Falta unidade. Outra questão: a Anvisa exige estudos de estabilidade e estudos clínicos para quem for vender nas farmácias. Mas, para isso, as empresas brasileiras precisam custear estudos clínicos de marcas estrangeiras que são caríssimos”, questiona Maria Eugênia.
A CEO da Kaya Mind avalia que o mercado ainda está em fase de maturação. “O mercado está sendo construído. A Anvisa vai revisar a RDC 327 (Resolução da Diretoria Colegiada n. 327/2019 – que define as regras para importação, fabricação e comercialização dos produtos nas farmácias) até lá, não sabemos para onde o mercado vai caminhar. Toda mudança demanda um tempo de adaptação. Entendemos que essa revisão não vai mudar as regras de jogo de forma substancial, porque do contrário, poderia prejudicar as empresas que deram início ao processo antes das demais”, analisa.
Na visão da Maria Eugênia ainda há espaço para os mais diversos players no mercado. “As farmácias ainda não podem disponibilizar formulações com alto THC (tetrahidrocanabinol) ou em diferentes apresentações. Para conseguir entrar com um produto nas farmácias são necessários, pelo menos, meio milhão de reais só para tratar de documentação. Hoje, não há poder de barganha quando o assunto é Cannabis para fins médicos aqui no Brasil. Se tivéssemos a oportunidade de cultivar em solo brasileiro, teríamos maior poder de negociação e parte dos recursos ficariam aqui.