De acordo com The Green Hub, a quarta chamada de novos negócios bate recorde e é um terço maior do que a demanda do ano anterior.
Você já pensou em empreender no mercado da Cannabis num país onde a lei criminaliza o cultivo dessa commodity? Muita gente nem imagina, mas pelo menos uma centena de startups está de olho nesse mercado verde do futuro. A incubadora e aceleradora de novos negócios no setor da Cannabis, The Green Hub, acaba de receber 108 projetos de startups, na quarta chamada de inscrições, encerrada no dia 15 de julho. É um novo recorde. Segundo a empresa, o número é 36% maior do que no ano anterior que atraiu 69 inscrições. E mais do que o dobro da segunda edição que recebeu 43 aplicações. Para se ter uma ideia do salto, no primeiro processo de seleção da empresa, em 2019, foram 16 inscrições.
O processo seletivo dessa quarta rodada reúne informações interessantes sobre o perfil de quem deseja empreender, assim apresenta uma raio-x do estágio atual das startups que buscam capacitação e investimentos. De acordo com os dados divulgados pela The Green Hub, mais de 67% das propostas são originárias do próprio Brasil, o restante é de empreendedores que estão na Holanda, Alemanha, Portugal e Uruguai, por exemplo. A maior parte dos empreendedores interessados nesse tipo de negócio se concentra na região sudeste do país. São Paulo lidera (36,2%), logo atrás aparece o Rio de Janeiro (12,8%), Minas Gerais (10,6%) e na sequência os três estados do Sul: Rio Grande do Sul (6,4%), Santa Catarina e Paraná empatados (5,3%).
Das empresas que disputam uma vaga no processo de aceleração e incubação da The Green Hub, 78% nunca participaram desse tipo de estruturação de business. Apesar de os números indicarem que mais de 44% das startups já estão operando e outros 55% existem há pelo menos de dois anos, a maioria, ou 41,7%, ainda não tem faturamento ou aporte de investimento. “Tudo começa com essa chamada. Temos critérios de avaliação precisos e teses parecidas com as de outras aceleradoras. Olhamos a composição do time, se o projeto é inovador, se há oportunidade de escala do produto. Tudo é feito de forma muito transparente”, explica Alex Lucena, diretor de inovação da The Green Hub.
Setor de atuação
Dentre as empresas que disputam vaga na aceleração e incubação da The Green Hub, quase 27% são negócios voltados para a área de saúde, cerca de 14% agrobusiness, 11% dos projetos relacionados à tecnologia, 8,3% dizem respeito à educação, 5,6% biotecnologia, 4,6% comunicação e 2,8% são voltados ao mercado têxtil. O restante, são ideias para impulsionar o a área jurídica, o varejo, o turismo e a logística do mercado canábico.
Perfil do empreendedor canábico
Apesar de 53% das startups responderem abrigar diversidade nos cargos de liderança das empresas, a maioria dos negócios canábicos é de homens (68,5%) com idade entre 35 e 44 anos (38%). A maior parte dos empreendedores também é bem instruída com ensino superior, pós-graduação e doutorado (96,3%). Apenas 3,7% dos que desejam investir na área da Cannabis possuem apenas o ensino médio.
A pesquisa ainda mostra que um terço dos empresários investiram recursos do próprio bolso para colocar o empreendimento de pé. Dentre aqueles que buscam impulsionar o negócio com a ajuda da The Green Hub, quatro em cada dez afirmaram estar empreendendo sozinhos. Outros 40% disseram ter de dois a cinco colaboradores ou funcionários na empresa. A maioria, ou 67%, reconhece usar freelancer para trabalhos pontuais.
Exemplos de sucesso
Atualmente, a The Green Hub impulsiona doze empresas. Um caso de sucesso é a Blue Hemp, que apesar do CNPJ ser canadense, a empresa é constituída com DNA brasileira. “A empresa é de quatro brasileiros. Dois moram no Canadá e dois em São Paulo. Eles estão 100% focados em alimentos e bebidas. Em maio, lançamos a primeira edição de ketchup com Cannabis. Tivemos um insight que seria um bom produto, foi muito bem aceito. Agora estamos escolhendo o parceiro que será licenciado para produzir o condimento em grande escala”, comemora Lucena.
Outra startup que promete crescimento na área de cosméticos é a CBdifferent. “Temos muito orgulho do casal brasileiro que deu início ao projeto. Hoje eles têm uma parceria no Uruguai e estão indo muito bem. Estão inclusive montando um laboratório para atuar fortemente no setor de cosméticos. Eles vêm dessa área. Já fizeram experimentos com terpenos. Agora, uma coisa é fazer um projeto piloto, outro passo é fechar com indústria para fabricar em escala industrial. Nessa etapa tem que pensar em embalagem, rótulo, distribuição e logística…”, explica o diretor de inovação.
Captação de recursos e investimentos
De acordo com Alex Lucena, a The Green Hub possui um comitê de investimentos que é consultado antes de selecionar os projetos e de dar início às rodadas de negócio. “Além dos sócios, temos consultores externos. Se o projeto for de biotech, ouvimos cientistas que entendem de biotecnologia. Se o projeto for da área de saúde, ouvimos os médicos. E assim por diante. Esses consultores externos são de extrema importância, porque nos ajudam na tomada de decisão”, afirma Alex Lucena.
Sobre o grau de participação da The Green Hub nos negócios selecionados, o diretor de inovações da empresa explica que tudo depende do estágio de maturação da startup. “Quando a empresa nasce aqui dentro é 100% nossa. Quando vem de fora, depende. Algumas já passaram por aporte e rodada de investimento, outras não. Aí, o percentual da The Green Hub é menor. Não cometemos o erro da ganância, querendo um percentual muito grande, porque assim quebra o negócio. O empreendedor sempre tem que ser majoritário. Mas, quando entramos, entramos com tudo. O que fazemos de melhor é remar e desenvolver para que a empresa cresça. Remar junto, fazer crescer novos negócios, vendas, internacionalização, auxiliar na parte jurídica. Olhamos o negócio como se fosse nosso, porque uma parte passa a ser nossa”, diz Lucena.
Seleção
Os projetos selecionados nesta quarta rodada serão apresentados no Cannabis Thinking em setembro desse ano. “Projetos antenados ao ESG (Environmental, Social, Governance) saem na frente. Estamos buscando empresas com esse compromisso, que não queiram apenas o lucro, mas que se empenhem em desenvolver uma indústria responsável com o meio ambiente e inclusiva do ponto de vista social. Esse é um critério relevante de seleção. É impossível dissociar ESG e Cannabis. Nós vimos isso em Nova York no evento da ONU”, antecipa Lucena.
O diretor da aceleradora dá outra dica do que pode atrair novos investidores no futuro próximo. “Alimentos, bebidas e cosméticos. O regulatório ainda não nos permite grandes coisas, mas já há brechas. O coração da semente o “heart” é um superalimento para animais. Os nossos advogados estão próximos de dar o OK. Já existe uma portaria que abre um precedente no Ministério da Agricultura e Pecuária. Quando se tira a casca da semente, a parte interna vem triturada, vira uma farinha. Estamos de olhos nessa oportunidade”, concluir Lucena.